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Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil | Reprodução
Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil| Foto: Reprodução

Lapa e Sampa

• Delicada, o quarto álbum de Teresa Cristina, é a estréia da cantora em uma grande gravadora, a EMI. Traz sambas de autoria da própria Teresa e de compositores como Candeia, Caetano Veloso e Paulinho da Viola, além de bossa nova, baião e influências da umbanda.

• Em Quando o Céu Clarear (Eldorado), Fabiana Cozza, representante do samba paulista, aproxima-se dos ritmos afro-brasileiros. A intérprete tem a companhia de dois cubanos, o trompetista Julio Padrón e o pianista Yaniel Matos, dividindo os vocais com Dona Ivone Lara.

• Meu Carnaval é o primeiro registro-solo de Ana Costa, gravado pela Zambo Discos em 2006, até agora, pouco divulgado. Com repertório quase todo inédito, a cantora revelação da Lapa assina algumas faixas e flerta com o pop em "Olhos Felizes"(Marina Lima e Antônio Cícero).

O país do samba andou esquecido da sua batucada. Passou pela era disco nos anos 70, pelo rock nacional dos 80, pelos modismos sofríveis dos 90 e chegou ao ano 2000 interessado nas misturas sonoras. Foi desses caldeirões que o samba ressurgiu para o grande público. E foi retomando seu espaço, até se tornar o "fenômeno" fonográfico da década.

Curioso é como o gênero exerce uma especial atração entre as cantoras. Em setembro, Teresa Cristina, Fabiana Cozza e Maria Rita lançaram seus discos de samba. Teresa é considerada a "porta estandarte" da ressurreição da Lapa. Ela chega ao quarto registro com Delicada (EMI) e põe cada vez mais a crítica a seus pés. Fabiana é sambista de São Paulo, conseguiu boa repercussão com seu álbum de estréia e tenta consolidar a carreira com o segundo, Quando o Céu Clarear.

Maria Rita é de longe a mais conhecida – e não é pelo samba no pé. Revelada como cantora de MPB em dois discos nos quais apenas flertava com o samba, ela fez de seu terceiro álbum, Samba Meu, um namoro com o gênero.

As três intérpretes são uma amostra significativa de como o samba ampliou seu alcance e dá sinais de força tanto entre sambistas mais "puros", do Rio de Janeiro e de São Paulo, quanto entre as chamadas "novas cantoras", que vêm renovando o público da música popular brasileira.

Roberta Sá é outra expoente dessa nova geração da MPB. Embora não goste de ser classificada como "cantora de samba", a potiguar permeou seus dois álbuns – o segundo, o elogiadíssimo Que Belo Estranho Dia para se Ter Alegria, foi lançado no mês passado – com sambas. E não é preciso voltar muito mais no tempo para encontrar outras artistas encantadas pelo ritmo. No ano passado, foi a vez de Mariana Aydar e Ana Costa ganharem atenção pelos seus discos de estréia, Kavita 1 e Meu Carnaval, respectivamente.

A retomada de interesse pelo samba é atribuída principalmente ao ressurgimento da Lapa como bairro boêmio. "Os bares da Lapa começaram a dar mais valor a esse tipo de música porque atraía pessoas em volta das mesas para cantar, a princípio sem palco, uma coisa mais informal. Mas, quando os jovens começaram a se interessar, atraíram um público muito grande, de pessoas mais velhas e de gente vinda de outros lugares, que estava cansada dos espetáculos de ‘samba para turista’", explica Ana Costa, cantora que faz sucesso no bairro.

O poder de encantamento da Lapa foi crucial não só entre o público, mas também para angariar adeptas para o gênero. Maria Rita foi uma delas. Um dos palcos em que sua aproximação com o samba se deu foi a Lapa, onde cantou a convite de Mart’nália e ao lado de Leandro Sapucahy, o produtor de seu terceiro disco.

"Não quero parecer irônica, nem cometer heresia, mas o movimento em São Paulo hoje pontua muito o que está acontecendo de samba no Brasil", diz Fabiana Cozza, lembrando que o boom do ritmo não se limita ao território carioca. "De Norte a Sul, Leste e Oeste, há pessoas fazendo samba da maior qualidade, educando as suas comunidades para o samba. As quadras das escolas de samba estão voltando a fazer rodas e o público é muito variado".

É visível também que o mercado fonográfico acordou para o gênero. "Primeiro, foram as gravadoras e selos pequenos, depois selos maiores e gravadoras de médio porte, como a Biscoito Fino e a Deck", diz Ana Costa. As grandes gravadoras também se "sensibilizaram", especialmente depois de Marisa Monte gravar o bem-sucedido Universo ao Meu Redor – o que explica, em parte, as boas relações das cantoras de MPB com o gênero.

"O samba sai do gueto. Ao invés de só os sambistas gravarem, vemos cantores de todo tipo de música adotarem o samba. O ritmo chega ao ouvido das pessoas que não consomem os sambistas puros", opina Ana.

Além de capturar a atenção de um público diferente, as novas adeptas contribuem para a renovação do gênero, abrindo espaço para compositores antes desconhecidos – como Edu Krieger, o nome da vez desde que sua música "Novo Amor" foi parar nos discos de Roberta Sá e Maria Rita.

Não só os novos nem só os veteranos aproveitam a boa fase do samba. O momento é de aproximação de gerações, com trocas vantajosas para os dois lados. O fenômeno não é novo, já foi visto nos anos 60, por exemplo, e agora se repete. A música é cíclica. E é a vez do samba.

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