Nelson Freire valoriza a obra de Villa-Lobos em seu novo CD| Foto: Divulgação
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CD

Brasileiro: Villa-Lobos & Friends

Nelson Freire. Decca Classics/Universal Music. R$ 35.

Nelson Freire é o músico brasileiro de erudita mais conhecido em todo o mundo. Seus recitais em Paris, Londres, Viena, e outros respeitáveis centros musicais, fazem dele um pianista muito conhecido no universo musical. O que é mais interessante, para nós brasileiros, é que Nelson Freire nunca se afastou totalmente do seu país de origem, tocando com frequência no Brasil por cachês muito mais baixos do que recebe no exterior e atuando com orquestras muitas vezes inferiores, em termos de qualidade, que aquelas com as quais costuma atuar. Este seu último CD é prova desta ligação com o seu país.

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O título do álbum Bra­sileiro: Villa-Lobos & Friends traz uma palavra em português, mesmo este sendo um CD da gravadora Decca lançado na Europa. O título tem lá seu aspecto duvidoso, pois pelo menos um dos compositores enfocados no disco, Alexandre Levy (1864-1892) nunca conheceu Villa-Lobos.

A maior parte deste registro mostra a produção de nosso maior compositor. Mais da metade das 30 faixas são obras de Villa-Lobos. As outras mostram obras extremamente interessantes de Camargo Guarnieri, Claudio Santoro, Francisco Mignone, Lorenzo Fernández, Barrozo Neto, Henrique Oswald e o já citado Alexandre Levy. Aliás, de Levy, Nelson Freire executa de maneira brilhante o "Tango Brasileiro", obra citada no balé de Darius Milhaud O Boi no Telhado.

Freire, como de hábito, executa as obras de Villa-Lobos com uma sonoridade que deixa clara a sintonia do compositor brasileiro com a escola francesa. Algumas faixas do CD são desconhecidas mesmo entre nós, como "Minha Terra" de Barrozo Neto. É bom conhecê-las numa interpretação tão boa. Além da excelente execução de Nelson Freire vale a pena ressaltar a também excelente captação sonora.

Meu único senão a este disco é a omissão da última parte do "Carnaval das Crianças", de Villa-Lobos. Esta seção, a conclusão deste ciclo que fala do carnaval visto pelos olhos de uma criança, é escrita para piano a quatro mãos (esquisitices de Villa-Lobos). Outros pianistas gravaram este ciclo, convidando outro pianista para tocar a parte do segundo piano, como foi o caso de Roberto Szidon, que gravou o ciclo de forma magistral para o selo Deutsche Grammophon, convidando Richard Metzler para a execução do movimento, ou então gravando a parte do segundo piano em playback, como foi o caso de Anna Stella Schic. Se Nelson Freire tivesse convidado, por exemplo, sua grande amiga Martha Argerich para executar a segunda parte do movimento final do "Carnaval das Crianças", este ótimo trabalho seria ainda melhor.