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Os fãs do agente 007 podem ficar tranqüilos. Se depender de Daniel Craig, o novo James Bond do pedaço, a série não perderá sua força e elegância. E o melhor: vai ganhar em atualidade, já que o ator inglês de 38 anos tem muito mais a ver com estes tempos ambíguos do que o canastrão chique Pierce Brosnan. Boa pinta, mas com cara de mau e um certo ar angustiado, Craig parece ser o homem certo para viver o personagem em sua versão anos 2000.

Cassino Royale, o próximo título da série, só chega aos cinemas em novembro. Enquanto isso, os bondmaníacos podem conferir o talento de Daniel Craig em seu primeiro longa como protagonista, Nem Tudo É o Que Parece, recém-lançado em DVD. Não se trata, no entanto, de um mero aperitivo. Dirigida por Matthew Vaughn, mais conhecido como produtor dos trabalhos de Guy Ritchie, a fita é um ótimo exemplar do gênero "filme de gângster".

Baseado no romance policial do escritor J.J. Connelly (também autor do roteiro), o longa seria realizado por Ritchie, que acabou pulando fora do projeto na última hora. Decidido a estrear na direção, Vaughn não se fez de rogado, encarou a tarefa e, de forma surpreendente, colocou no chinelo seu colega. Ao contrário de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch – Porcos e Diamantes, filmes que colocaram a dupla britânica no mapa cinematográfico, Nem Tudo É o Que Parece passa longe de qualquer estilização modernosa. É um trabalho maduro e coeso, cuja busca por profundidade credencia seu diretor para passos ainda mais ousados (após recusar o convite para comandar X-Men 3, ele agora está à frente de Stardust, com Robert De Niro, Michelle Pfeiffer, Peter O’Toole e Claire Danes).

Ecos dos dois filmes de Ritchie aparecem aqui e ali, é claro. Além da temática "bandida", há boas doses de humor e violência (não explícita, diga-se). Mas a diferença é nítida: enquanto o roteiro vira apenas um penduricalho nos exercícios de linguagem de Ritchie, a história insiste em ser o motor de Nem Tudo É o Que Parece – por mais que Vaughn às vezes se entregue à tentação de copiar os malabarismos narrativos do amigo.

Lembrado por papéis secundários em A Estrada para Perdição e Lara Croft: Tom Raider, Daniel Craig é o nervo central da trama. Ou melhor: XXXX, o personagem sem nome e passado que ele interpreta. Traficante de cocaína, o sujeito prefere ser reconhecido como empresário – comanda uma equipe "multidisciplinar" (com destaque para o impagável capanga Morty), abomina armas e pretende se aposentar em breve. Mas, como acontece em nove entre dez filmes do gênero, sua última missão antes do descanso será marcada por atropelos.

XXXX e seu grupo são destacados por um mafioso para vender um lote gigantesco de ecstasy e, por tabela, encontrar a filha viciada de outro barão do tráfico. Uma tremenda roubada, óbvio. Começa então uma série de reviravoltas que envolve bandidos de todas as categorias, do ladrãozinho mais pé-de-chinelo ao político corrupto de uma republiqueta africana. Levará a melhor quem conseguir transitar entre todas essas esferas – daí o título original do longa, Layer Caker, ou "Bolo em Camadas".

Ainda que um tanto cretino, o nome em português faz sentido: a estréia de Matthew Vaughn até se parece com os filmes de Guy Ritchie. Felizmente, não é. GGG1/2

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