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Domício Pedroso: artista plástico curitibano celebra seis décadas dedicadas à pintura dirigida pela intuição e calcada na técnica | Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Domício Pedroso: artista plástico curitibano celebra seis décadas dedicadas à pintura dirigida pela intuição e calcada na técnica| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Trajetória

Saiba mais sobre o artista plástico Domício Pedroso.

- 1930 – Nasceu em Curitiba, em 28 de dezembro.

- 1948 – Ingressa na Escola de Música e Belas Artes, mas já havia iniciado seu aprendizado artístico no ateliê de Guido Viaro, seu primeiro mestre.

- 1949 – Recebe a Menção Honrosa no Segundo Salão de Belas Artes da Primavera do Clube Concórdia, primeiro prêmio de muitos que receberia, incluindo Prêmios Aquisição do Salão Paranaense.

- 1959 – Viaja para Paris por três anos para travar contato com mais expressivos grupos de vanguarda. Foi o primeiro brasileiro formado em técnicas audiovisuais no Centre Audio-Visuel de Saint-Cloud, com diploma homologado pela Unesco. Retorna ao Brasil em 1962.

- 1963 – Realiza exposição individual no Teatro Guaíra. Organiza e dirige o Centro Audiovisual para a Secretaria de Educação e Cultural do Estado do Paraná.

- 1973 – Criou o Salão de Exposições do Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep) e durante dez anos foi curador da programação cultural ali desenvolvida (de 1973 a 1983). De 1981 a 1990, foi coordenador da Fundação Nacional de Arte – Funarte, para a Região Sul.

- Atualmente dedica-se exclusivamente à pintura.

- Parte de suas telas fazem parte dos acervos de inúmeros museus, dentre eles, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC), o Museu Metropolitano de Artes (MuMA), o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) e a Biblioteca Nacional, ambos no Rio de Janeiro.

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O artista plástico curitibano Domí­cio Pedroso, de 79 anos, nunca quis viver somente de seus pincéis. Olhando para os 60 anos de trajetória artística percorridos, não se arrepende da decisão de ganhar o pão atuando em outras frentes, re­­lacionadas à comunicação, ao mesmo tem­­po em que não parou de pintar.

"O mercado de arte sempre foi muito incipiente em Curitiba. Então, ter outros meios de sustento me deu a liberdade de sempre fazer o que quis como artista, sem me submeter à demanda do público", disse, em entrevista à Gazeta do Povo concedida na última quinta-feira (12), em meio às suas últimas telas, expostas na Galeria Solar do Rosário, onde recentemente lançou seu livro Domício Pedroso, com textos críticos de Maria Cecília de Araújo Noronha e Fernando Bini.

Mas a arte se manteve sempre em primeiro plano em sua vida desde que, ainda criança, cercado de obras de arte colecionadas pelo pai, de artistas como Teo­­doro de Bona e Guido Viaro, es­­boçou suas primeiras pinturas. "Como secretário de Edu­­cação e Cultura do Paraná, meu pai mantinha boas relações com vários artistas".

Guido Viaro, em uma visita à casa do amigo, viu Domício e o irmão, o futuro es­­cultor Renato Pedroso, desenhando e chamou os dois para frequentar seu ateliê. "Ele tinha uma capacidade incomum de se comunicar com os jovens e de incentivar sem direcionar o trabalho do aluno", lembra. Pouco tempo depois, em 1948, Viaro seria seu professor na Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

Neste período, Domício, Renato e o artista Fernando Velloso saíam com o mestre para pintar cenas dos arredores de Curitiba e as marinhas de Guaratuba, onde costumavam passar as férias. A influência expressionista de Viaro e a participação de Domício no grupo de artistas que lutava contra o academicismo dos salões, na década de 50, iriam contaminar suas paisagens.

Favelas plásticas

A tendência se fortaleceria durante uma temporada de dois anos no Rio de Janeiro, para estudar Relações Públicas na Fundação Getúlio Vargas, com a descoberta da beleza plástica das favelas, tema que perseguiria pelas décadas seguintes. "As primeiras favelas tinham perspectiva aérea, proporção. Mais tarde, fui simplificando a paisagem, eliminando detalhes arquitetônicos do casario, trabalhando mais as massas de cores", conta.

A pesquisa formal foi interrompida por uma viagem de três anos a Paris, onde Domício e Velloso, acompanhados das respectivas esposas e filhas pequenas, chegariam desejosos de participar do redemoinho cultural. "Queríamos conhecer tudo o que estava acontecendo, os movimentos de vanguarda, e as coisas não chegavam até nós. Se em Curitiba havia uma ou duas exposições por ano, em Paris havia inúmeras grandes mostras por semana", conta.

Lá, Domício foi convidado para participar do curso de Co­­mu­­nicação Visual no Centre Audio-Visuel de Saint-Cloud, o que iria distingui-lo como o primeiro brasileiro a se formar em técnicas audiovisuais com diploma homologado pela Unesco. "O curso me daria experiência para trabalhar nesta área", conta ele.

Na França, Domício teve contato com "uma avalanche de informa­­ções". Como escreve Maria Ce­­cília de Araújo Noronha, "(ele) pô­­de cons­­tatar que os grandes movimentos artísticos do final do século 19 ainda estavam muito presentes convivendo com as vanguardas do começo do século 20, ao mesmo tempo em que outros movimentos surgiam em busca de novas soluções".

"Passei a pintar abstrações e deixei de lado as favelas para retratar todas as novidades que me cercavam", conta. Na tela "Inverno em Paris", por exemplo, a paisagem – uma rua – ainda permanece, mas tem seus elementos simplificados ao ponto de se tornar quase irreconhecível. "Uso um cinza pálido para transmitir a sensação de inverno."

Luz dos trópicos

Ao voltar a Curitiba, um passeio por Recife e Salvador faria Domício "redescobrir a luz tropical" e voltar às favelas. "Nesta fase, já não precisava ir a campo para captar as paisagens, como o pintor tradicional. Passei a pintar as paisagens que estavam em minha memória dentro do estúdio", explica o artista.

Ele, no entanto, não despreza a técnica que desenvolveu no início de sua trajetória. "Grandes artistas co­­mo Picasso, muito conhecido por suas pinturas cubistas, mostraram que sabiam pintar nos moldes tradicionais com perfeição. A base acadêmica dá domínio para que o pintor fa­­ça, depois, o que quiser", considera.

As favelas, transformadas pelo exercício de abstração, são ainda hoje, a grande obsessão de Domício. "Suas cidades, onde alguns gostam de ver favelas, são metafísicas, essenciais, anônimas, são a magia da luz filtrada pela memória, mas são também estrutura e espaço na superfície da tela para lembrar a poesia que surge das coisas comuns e banais", escreve no catálogo o crítico Fernando Bini.

Ao pintar, Domício conta que atende meramente à sua intuição e não a um desejo intelectual de seguir uma ou outra tendência. "Cada tela é de certo modo uma continuação da anterior, mas com uma concepção visual própria que deixo aflorar sem um critério racional, deixo que a intuição vá me dirigindo."

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