Para Baldacci, manipulação de dados no jogo político gera medo coletivo| Foto: Divulgação

Forjar informações com o intuito de manipular as massas é uma das grandes ameaças a regimes políticos de todo o planeta. No atual mundo conectado pela internet, as tecnologias de som, vídeo e imagem estão ao alcance de qualquer pessoa, e o impacto de uma publicação veiculada na rede mundial de computadores é completamente imprevisível. Esses e outros elementos da modernidade servem para o escritor americano David Baldacci construir o pano de fundo de seu romance Toda a Verdade, publicado originalmente em 2008 e que agora chega ao Brasil pela editora Arqueiro.

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A história, que lembra roteiros de filmes como Mera Coincidência, de Barry Levinson e Adorável Vagabundo, de Frank Capra, parte de um vídeo falso em que um dissidente russo acusa seu país de violar os direitos humanos e acaba por desencadear uma gigantesca crise política. Mesclando ação, geopolítica contemporânea e romance policial, a trama se desloca entre vários núcleos: o poderoso magnata Nicholas Creel, que deseja criar um conflito para enriquecer com a venda de armas, a jornalista alcoólatra Katie James, vencedora do Pulitzer que busca uma forma de se reerguer e acaba se envolvendo sem querer em uma das maiores armações globais; e o misterioso Shaw, um agente secreto que garante a ordem mundial, mas que deseja parar com tudo para se casar com sua noiva Anna Fischer. O entrelaçamento dessas histórias proporcionam uma trama repleta de suspense e tensão, gêneros em que Baldacci, fenômeno de vendas em diversos países, já se mostrou competente com o thriller Poder Absoluto – o qual foi adaptado para o cinema com Clint Eastwood no papel principal.

"Escrevo de forma visual, mas nunca escrevo um livro pensando em transformá-lo em filme", conta Baldacci em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo. O escritor falou sobre a caracterização da Rússia como antagonista do Ocidente, as guerras motivadas por interesses financeiros e as pesquisas que faz para compor seus romances.

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A criação de rumores e teorias da conspiração parece ser de grande interesse. Você acha que as pessoas têm medo de serem manipuladas pelos governos?

Não apenas pelos governos, mas por qualquer um com poder, dinheiro e influência. Eu acho que do jeito que o mundo está conectado hoje em dia, nós podemos mandar uma mensagem – inclusive uma falsa – e ela começará a circular o globo em segundos. E até que se comprove a inveracidade do material, o mal já está feito. Quando lancei meu livro nos Estados Unidos, as pessoas consideraram que o enredo era algo que realmente poderia acontecer.

No livro, o mundo ocidental mais uma vez se volta contra a Rússia, numa época pós-Guerra Fria. Por que o país ainda se enquadra bem nesse papel?

A Rússia ainda é uma potência nuclear que tem conflitos com muitos países do mundo. O líder [Dmitri Medvedev] é instável, suas políticas são ríspidas e o líder de facto [o ex-presidente Vladimir Putin] é um ex-KGB. Eu acho que o mundo teme que a Rússia volte a seus antigos hábitos. Então, ficcionalmente, tudo isso faz dela um perfeito país-vilão.

Toda a Verdade é recheado de análises geopolíticas e informações sobre a vida política de diversos países. Como você prepara essa parte de seus livros?

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Eu faço muitas pesquisas, construindo meu mundo ficcional a partir de uma tonelada de fatos. Gerenciadores de percepção como os descritos no livro são jogadores muito reais no palco do mundo. Você pode perceber muito da atuação deles nos últimos meses, nas campanhas primárias do Partido Republicano.

Um dos focos do romance está na criação de uma guerra com objetivos financeiros. Como você observa esse aspecto no mundo real?

A maioria das pessoas odeia guerras, e por uma boa razão. Mas algumas pessoas ganham dinheiro com elas. E, como em todos os negócios, o foco principal é o resultado. Eu não estou dizendo que todos começam guerras puramente por interesses financeiros. Mas se o desejo de ir à guerra existe e tudo está dependendo de uma base lógica, é possível encontrar um pretexto adequado.

Seu estilo literário lembra muito um roteiro de filme. Desde que seu livro Poder Absoluto se tornou um sucesso nas telas você tenta escrevê-los de uma maneira cinematográfica?

A minha escrita sempre foi muito visual. Mas escrever um livro na esperança de que algum dia vire um filme é uma péssima ideia, já que a probabilidade é muito pequena. A principal diferença entre um romance e um script é que os livros têm espaço para subtramas e personagens periféricos interessantes, e nos filmes, tipicamente, não se tem esse tipo de coisa. Eu tento deixar o livro simplesmente ser um livro.

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Serviço:

Toda a Verdade, de David Baldacci. Tradução de Maria Clara de Biase. Arqueiro, 304 págs., R$ 24,90.