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Miguel Sanches Neto caminhando na Rodovia do Café: vínculo emocional com a estrada que o levou a tentar a sorte como escritor em Curitiba há trinta anos | Rodrigo Czekalski/Divulgação
Miguel Sanches Neto caminhando na Rodovia do Café: vínculo emocional com a estrada que o levou a tentar a sorte como escritor em Curitiba há trinta anos| Foto: Rodrigo Czekalski/Divulgação

Trinta anos atrás, o escritor Miguel Sanches Neto fez as malas e caminhou até a estação rodoviária de Peabiru. O jovem aspirante a escritor deixava para trás a infância na pequena cidade no norte do estado para tentar a sorte em Curitiba.

O caminho que o levou a tudo o que aconteceu em sua carreira de escritor, jornalista e professor foi a BR 376, a Rodovia do Café – estrada que começou a ser construída na década de 1940 como símbolo da integração e do desenvolvimento do Paraná.

Nesta semana, o escritor decidiu refazer o trajeto, como parte de um projeto batizado de Residência Literária na Rodovia. O escritor saiu de Apucarana na última terça-feira e, passando pela região dos Campos Gerais, chegará amanhã em Curitiba. Em uma van adaptada para ser seu escritório, Sanches tem percorrido cinquenta quilômetros por dia – sem pressa, com tempo para contemplar a paisagem natural e humana que envolve a rodovia.

O ponto final do périplo será o lançamento, previsto para o mês de julho, de um livro relatando a experiência em forma de diários e haicais. "A minha intenção é dar espessura e dimensão humana a esta estrada que eu achei que conhecia", explica.

O autor acredita que o olhar detido vai revelar facetas desconhecidas de quem apenas passa pela estrada, em alta velocidade, buscando seu ponto de destino.

"Me lancei sem nenhum roteiro, com uma velocidade diferente, mostrando tudo o que há de interessante e que passa despercebido por quem não para para observar de perto o que se passa na rodovia", conta.

Na porta da van, Sanches escreveu a frase "Conte-me sua história", para que as pessoas que encontrar pelo caminho possam compartilhar com ele suas impressões sobre a estrada. "Tenho evitado os discursos de reivindicação que as pessoas normalmente fazem aos visitantes. Me interessam os vínculos das pessoas com o lugar", explica.

Diários

O projeto foi influenciado, de uma forma geral, pela experiência na literatura universal de escritores viajantes que deixaram diários de bordo.

Em especial, a referência veio de dois livros. O primeiro é Os Astronautas da Cosmopista, do escritor argentino Julio Cortázar, que relata uma viagem do autor em uma Kombi entre Paris e Marselha. O plano de Cortázar era redimensionar o tempo do deslocamento e restaurar o ritmo dos viajantes da época das diligências. "Sempre achei essa ideia muito bonita. Ela nunca saiu da minha cabeça, mas não imaginava que fosse fazer algo semelhante", confessa.

O plano tomou corpo a partir da leitura recente do livro Uma Semana no Aeroporto, do filósofo Alain de Botton, que foi contratado para ficar uma semana no aeroporto de Heathrow, em Londres, apenas observando os encontros e despedidas.

"Quando li este livro, concluí que eu tinha de ficar uma semana nesta estrada que faz parte da minha vida", explica.

A viagem de Sanches tem patrocínio da concessionária CCR RodoNorte, através da Lei Rouanet, e o apoio da Fundação Cultural de Ponta Grossa.

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