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O garoto à esquerda foi adotado por Jolie | www.g1.globo.com
O garoto à esquerda foi adotado por Jolie| Foto: www.g1.globo.com

Robert de Niro sentou pela segunda vez na cadeira de diretor para oferecer uma contundente denúncia do establishment burocrático que é o cão de guarda do poderio americano, a mão de ferro que age nas sombras por trás da fachada da América defensora da liberdade e dos direitos humanos. Em "O bom pastor" (veja trailer), com elenco de primeira, De Niro retrata o nascimento da espionagem americana desde antes da Segunda Guerra Mundial até a desastrada tentativa de derrubar Fidel Castro na invasão da Baía dos Porcos, em abril de 1961.

O personagem central é Edward Wilson, vivido por Matt Damon, acusado por alguns de ser inexpressivo. Uma crítica improcedente. Seu papel de chefe de contra-espionagem pede o perfil de agente de um mundo onde nada é o que parece ser, sem poder confiar em pessoa alguma. Tudo isso requer frieza e impessoalidade. O personagem lembra muito o Michael Corleone de "O chefão: parte 2", uma figura de aparência neutra, chapéu, terno e sobretudo em tons escuros e rosto de pedra, que exerce o poder de maneira fria, calculista e brutal. Uma missão que exclui a própria mulher, que nunca pode perguntar ao marido como foi o dia, nada compartilha com ele e acaba se sentindo uma estranha. No caso, a mulher é Angelina Jolie, a sra. Wilson, no começo uma jovem fogosa que dá em cima de Edward numa festa e logo se entrega e engravida, levando-o ao altar. No decorrer do filme vira uma mulher amarga e desesperada, um papel não muito comum à atriz, o que acaba causando uma sensação de erro de escalação.Na segunda metade da década de 20, Edward estuda em Yale, universidade da elite Wasp (branca anglo-saxã protestante) e integra a fraternidade Skull and Bones, (Caveira e Ossos) de onde saem as figuras-chave da estrutura de poder e onde ele é recrutado para servir ao país na área de inteligência pelo general Bill Sullivan (De Niro) com o argumento de que, pela sua importância terá apenas wasps, nada de negros, judeus e poucos católicos. Ele embarca no Escritório de Serviços Estratégicos (OSS) e tem atuação de ponta durante a guerra, trabalhando na Inglaterra e, depois da vitória, em Berlim, onde busca cientistas do reich para levá-los aos Estados Unidos. Ele fica esse tempo todo longe de casa e, na volta, conhece o filho, já com seis anos, que o recebe como um estranho, e a mulher pede que durmam em quartos separados até ela se reacostumar a ele.

Em 1947 é criada a Agência Central de Informações (CIA) e Wilson passa a ser figura de ponta na área de operações clandestinas e o filme foca um dos mais importantes fracassos, a invasão da baía dos Porcos, uma operação coordenada pela CIA com mercenários que deveria ter recebido apoio das Forças Armadas, mas o presidente John Kennedy puxou o tapete. Também mostra uma operação que joga gafanhotos nas plantações cubanas e um apelo de Wilson a mafiosos, que perderam milhões com o confisco de cassinos por Castro. Uma conversa com Joseph Palmi, Joe Pesci em participação especial, é significativa quando aborda identidade cultural. Pesci pergunta a Wilson porque ele quer sua ajuda contra os cubanos: "Nós, italianos, temos nossas famílias e a igreja, os irlandeses têm sua pátria, os judeus sua tradição, até os crioulos têm sua música. E vocês, o que tem?" Wilson responde curto e grosso: "Os Estados Unidos. O resto de vocês está apenas de visita".

Depois da guerra, a CIA combate seu rival na União Soviética, o Comitê de Segurança do Estado (KGB), e estabelece uma relação de ódio cordial com Stas Syanko (o ator russo Oleg Stefan), codinome Ulysses, sua contraparte soviética, e aprende que seu codinome para o KGB é Mãe. Ulysses recorre a chantagem para tentar recrutá-lo e faz-lhe um favor especial ao cometer um crime que Wilson lhe encomenda de maneira velada.

Com 167 minutos e montagem com flashbacks, "O bom pastor" não é um filme fácil, mais adequado para quem se interessa pela estrutura de poder americana na guerra fria, com bom elenco e personagens baseados em pessoas da vida real. O Philip Allen, chefão da CIA interpretado por William Hurt, por exemplo, se baseia em Allen Dulles, pioneiro da OSS e diretor da CIA. O general Bill Sullivan (De Niro) parece muito com o general Wild Bill Donovan, recrutador de jovens para a espionagem em Yale. Alec Baldwin faz o agente do FBI Sam Murach, também encarregado de recrutar jovens, e John Turturro se destaca como o sargento Ray Brocco, braço direito de Wilson.

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