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Edição fac-símile da página letra e/& artes, que será distribuída gratuitamente para bibliotecas e universidades: inovação gráfico-editorial nos anos 1950 | Reprodução
Edição fac-símile da página letra e/& artes, que será distribuída gratuitamente para bibliotecas e universidades: inovação gráfico-editorial nos anos 1950| Foto: Reprodução

História

Conheça alguns detalhes da história do Diário do Paraná:

Início

Fundado em 29 de março de 1955 em Curitiba, foi o braço paranaense dos Diários Associados, o conglomerado do magnata da comunicação Assis Chateaubriand.

28 anos

Teve sua primeira sede no edifício do Clube Curitibano, na Rua Barão do Rio Branco, onde também atuava a Agência Meridional, uma das agências de notícias também de propriedade de Chateaubriand. Existiu por 28 anos até sua extinção, em 23 de janeiro de 1983.

Direção

Foi comandado pelo jornalista Adherbal G. Stresser, filho do compositor Augusto Stresser. Adherbal foi o responsável por autorizar a publicação do caderno letra e/& artes entre 1959 e 1961, com total liberdade criativa a Sylvio Back e seus colaboradores.

  • Back, na época com 22 anos, foi o responsável por criar o suplemento literário

O suplemento literário de um jornal, quando existe, jamais passa imperceptível aos olhos da comunidade intelectual de toda a cidade. Na Curitiba do final dos anos 1950 – pequena em tamanho, porém fervilhante de ideias –, a página letras e/& artes (assim mesmo, em minúsculas) foi o acontecimento que colocou em evidência os poetas, ficcionistas, críticos, filósofos e artistas plásticos que iniciavam suas carreiras sem as facilidades da autodivulgação que a internet proporcionou na virada do século. Criada pelo então jornalista e hoje também escritor e cineasta Sylvio Back, a página foi publicada aos domingos no extinto jornal Diário do Paraná – uma das meninas dos olhos do magnata da comunicação Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados – entre 1959 e 1961.

A vida curta da publicação talvez tenha facilitado o resgate: meio século após sua extinção, as 85 edições do suplemento foram restauradas em uma coleção fac-similar, organizada por Back com o apoio da secretaria estadual da Cultura do Paraná e do patrocínio da Itaipu Binacional, distribuído gratuitamente em bibliotecas, universidades e centros literários públicos e privados.

No texto de apresentação, Sylvio Back conta como entrou na sede do Diário do Paraná sem nunca ter visto uma redação, aos 17 anos, e como, aos 22, se tornou o editor da página dominical, coordenando com completa liberdade. "A publicação chamava a atenção porque tudo era acondicionado numa plataforma gráfico-visual que destoava de toda a imprensa paranaense, inclusive do próprio Diário do Paraná, e muito frequentemente da própria orientação política do jornal", conta Back em entrevista à Gazeta do Povo por e-mail.

De fato, a página apresentava conceitos gráficos modernos para a época, como a valorização de espaços em branco, ilustrações conceituais e utilização de minúsculas em todos os títulos – inexplicavelmente, conta Back, o título do caderno era impresso ora com o "e" do alfabeto, ora com o "&" comercial.

O conteúdo também era igualmente arrojado. Poesias, contos, críticas literárias e ilustrações de nomes que se tornariam proeminentes nos anos seguintes, como o já experiente escritor Valêncio Xavier, os artistas plásticos Paul Garfunkel, Alberto Massuda e Ênio Marques Ferreira, e os jornalistas Luiz Geraldo Mazza, Roberto Muggiati e Yvelise Araújo, entre outros, recebiam espaço ali, além de textos dos já nacionalmente famosos Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. "Havia uma ‘fúria do bem’, nada de acertar as contas com o passado ou com os pretéritos intelectuais, acadêmicos ou institucionais. A meta consistia em motivar, incendiar e fazer valer a produção e a criatividade do presente", explica o criador do caderno.

Legado

Um dos mais assíduos colaboradores do suplemento foi o jornalista, escritor e tradutor Roberto Muggiati. Repórter da Gazeta do Povo na época, colaborava gratuitamente com a página pelo interesse em fomentar discussões e opiniões a respeito das várias vertentes artísticas.

"Era uma época de intensa acentuação cultural. Tivemos coisas como a bossa nova e o cinema novo aqui no Brasil e a explosão da cultura beat nos Estados Unidos. A letra e/& artes era um foco de opinião e informação e serviu bem ao propósito de agitar a vida intelectual da cidade, que na época devia ter perto de 300 mil habitantes", lembra Muggiati. Para ele, a restauração do projeto, mais do que a função de resgate memorialístico, auxilia a compreender a vida artística da cidade na época: "O Rio de Janeiro e São Paulo têm esse passado muito bem documentado, mas pouco se sabe hoje como pensava Curitiba naqueles anos. O suplemento ajuda a compreender a formação cultural da capital hoje".

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