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Dois episódios abalaram os Estados Unidos em 2001. O mais famoso deles é o ataque terrorista que destruiu as duas torres gêmes do World Trade Center, em Nova Iorque, e parte do Pentágono, em Washington. O outro é a derrocada da megacorporação Enron. Em questão de meses a empresa, a sétima maior daquele país, entrou em falência, deixando milhares de acionistas de mãos vazias. Para dar conta desse caso, que arruinou a vida de muitas famílias americanas, o cineasta Alex Gibney dirigiu o documentário Enron – Os Mais Espertos da Sala. Enquanto cinema, não é mais do que uma longa, urgente e pertinente reportagem de televisão. Depois de uma rápida temporada no Cine Novo Batel, o filme agora volta ao cartaz, na Cinemateca de Curitiba.

A partir do suicídio de um ex-funcionário da Enron, J. Clifford Baxter, o filme reconstrói cronologicamente o percurso de ascensão e queda da gigante americana. Fundada em 1930, a Northern Natural Gas Company foi alvo de uma série de transações até que Kenneth Lay assumisse o cargo de diretor e renomeasse o negócio, que passou a ser chamado Enron, em 1985.

Nos anos seguintes, a companhia atuou oferecendo serviços de distribuição de energia, construção de usinas, dutos e outros serviços ligados a infra-estrutura. Um vigoroso crescimento chegou nos anos 90, movido por estratégias agressivas de vendas e marketing. A chefia liderada por Jeff Skilling defendia o livre mercado e abominava as regulações dos estados. A Enron recebeu o título de empresa inovadora do ano por seis anos consecutivos pela revista Fortune, entre 1996 e 2001, e foi considerada, em 2001, pela mesma publicação, uma das cem melhores corporações para se trabalhar nos Estados Unidos. Menos de um ano depois, no dia 16 de outubro de 2001, a Enron anunciou uma perda de US$ 618 milhões apenas naquele trimestre.

Depois, no dia 8 de novembro do mesmo ano, a companhia revelou que vinha superestimando seus lucros desde 1997. Em outras palavras, a Enron havia se aproveitado de brechas nas leis e da especulação, que envolveu dezenas de outras empresas e bancos, para esconder suas dívidas e apresentar um balanço sempre positivo. Por outro lado, a idéia de livre mercado não veio acompanhada de ética. Na Califórnia, a companhia cortou sucessivamente o fornecimento de energia para elevar os preços de seus serviços. A Enron faliu e deixou 4 mil funcionários na rua.

O foco do documentário, porém, está na casta de dirigentes da empresa que, em um jogo de orgulho, ganância e avareza, souberam lucrar a partir da desgraça dos outros. Sabendo das falcatruas, os membros da diretoria sacaram suas partes das ações e ficaram ricos, antes que a bomba estourasse.

O filme é uma adaptação do livro homônimo de Bethany McLean e Peter Elkind. Formalmente, o resultado é uma longa narração em off de imagens de arquivo, ocasionalmente interrompida por depoimentos. O que interessa no filme está na enorme avalanche de informações organizadas pelos roteiristas e pelo diretor. Isso, curiosamente, poderá reacender a discussão sobre a linha que separa o cinema da televisão. Afinal, Enron – Os Mais Espertos da Sala é aquilo que vemos diariamente nos noticiosos de televisão, uma matéria muito extensa, exaustiva e pertinente. GGG

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