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Cena da peça "Labirinto" | Divulgação / Guga Melgar
Cena da peça "Labirinto"| Foto: Divulgação / Guga Melgar

Labirinto é mais um exemplo de espetáculo que pega o público no susto. Nada de errado com a montagem, muito pelo contrário. A direção de Moacir Chaves é firme e bem estruturada na divisão de falas e marcações entre os 13 atores em cena. Lá no meio, está Katiuscia Canoro, a Lady Kate do programa Zorra Total. Se você é mais um que vai (ou foi) assistir a comédia esperando um humor simples, claro e escrachado... é melhor tomar cuidado.

A sinopse é direta e objetiva. Uma montagem inspirada em três textos de José Joaquim de Campos Leão, conhecido como Qorpo Santo. Escritor gaúcho que teve o pico de sua produção dramatúrgica em meados do século XIX. Justamente a época em que sofria com alucinações. Os momentos de loucura e genialidade ficam bem claros no palco. Cabe ao espectador acompanhar isso.

Os textos giram em torno da infidelidade, política e incesto, mas tratados da forma como Qorpo Santo os concebeu. Português utilizado no período imperial com insanas questões sociais. O pai que busca sexo e corre atrás do serviço de garotas de programas. Elas são suas filhas e a mãe é a cafetina. Antes disso, acompanhamos uma espécie de defesa escrita por Santo para justificar o valor de sua obra e ideias. O cenário criado é uma conversa entre o rei e um súdito. A abertura da peça é o retrato de uma traição que custa algumas vidas, junto com a discussão de relacionamento entre serviçais.

Parece complicado, não é? Mas, se você prestar atenção nos diferentes atores que guiam a narrativa e soltar a imaginação com suas descrições e contextos, a peça ganha uma nova cara e abre um louco universo. Sim, você vai ter um certo trabalho intelectual em Labirinto. Mas não se assuste... faz bem.

Isso se torna um prato cheio para as saídas dramatúrgicas utilizadas por Chaves. Elas causam uma estimulante angústia labiríntica. Momentos em que todos os atores falam ao mesmo tempo, ecos em diferentes volumes, inversões de papéis e muita metalinguagem. O limite com o teatro do absurdo ainda ganha o serviço da confusão com os figurinos inspirados nos anos 60. Ficam explícitas as diferentes vozes utilizadas por Santo como se participassem de um discurso feito por várias classes sociais. A voz do povo. Também é uma homenagem a primeira encenação de Labirinto, que aconteceu na mesma época.

Qorpo Santo profetizou isso tudo em sua defesa. Disse que de séculos em séculos as pessoas iriam descobrir seu trabalho e se maravilhar. Inclusive, os fãs da Lady Kate.

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