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Willem Dafoe faz o protagonista em 4:44, um dos destaques do festival de Nova York: rotina mesmo diante do apocalipse | Divulgação
Willem Dafoe faz o protagonista em 4:44, um dos destaques do festival de Nova York: rotina mesmo diante do apocalipse| Foto: Divulgação

4:44 – Last Day on Earth, novo trabalho de Abel Ferrara, que concorreu ao Leão de Ouro em Veneza, é um dos destaques da 49.ª edição do Festival de Nova York, que ocorre até o dia 16 de outubro. Exibido na noite de segunda-feira numa sessão prévia para a imprensa, o filme recebeu aplausos apenas educados da plateia de jornalistas, talvez surpreendida com a mudança de tom no cinema do diretor norte-americano nascido no Bronx.

Após realizar uma série de filmes explorando as patologias de seus personagens ou histórias criminais, como Cidade do Medo, O Rei de Nova York, Vicio Frenético e Os Chefões, em 4:44, Ferrara foge do seu viés usual ao abordar o fim do mundo de forma calma e reflexiva.

A história descreve as últimas 24 horas da raça humana, com o foco num casal formado por Cisco (Willem Dafoe), um ator bem-sucedido, e a pintora Skye (Shanyn Leigh). Instalados em seu apartamento em Nova York com vista panorâmica, ambos se ocupam de suas tarefas rotineiras domésticas e profissionais, enquanto aguardam o momento em que a vida deixará de existir na Terra, marcado para as 4h44 minutos do dia seguinte.

O tema, por sua vez, está em voga nos trabalhos de diretores consagrados como Roland Emmerich, que no seu 2012 previa o fim do planeta para aquele ano e, mais recentemente, na visão de Lars von Trier, no seu Melancolia.

O filme de Ferrara, no entanto – diferentemente de tais produções e de algumas outras do gênero – não mostra desespero, caos ou consequências relacionadas com o apocalipse.

O diretor apresenta uma humanidade conformada com algo que parece ser inevitável. Imagens transmitidas pela tevê e internet mostram o Dalai Lama atribuindo a catástrofe à ganância do ser humano e o ex-vice-presidente americano Al Gore dando explicações sobre o impacto das mudanças climáticas na Terra.

Após a projeção, a Gazeta do Povo participou da coletiva com Ferrara que, com seu jeito descontraído e informal, falou sobre o filme e sua visão sobre o fim do mundo. Leia os principais trechos:

Por que razão há tantos cineastas fazendo filmes sobre o fim do mundo? Não sei de onde vieram esses filmes, embora essa coincidência já tenha acontecido comigo antes, por exemplo, com filmes de gângster. Mas de fato, o tema está no ar e eu queria dar minha versão da coisa, eu sempre sigo a minha imaginação.

Acredita que o fim dos tempos poderia acontecer sem cataclismas?No meu filme, o alvo principal é o homem que está destruindo o planeta e os demais personagens encaram essa realidade. Por isso, não há catástrofes naturais, meteoros ameaçadores ou algum ato vindo de Deus. Apenas um problema relacionado com o ozônio, o que permitiu um fim marcado por luzes como as das auroras boreais, uma obra de arte. Acha possível o comportamento natural dos personagens ante o anúncio do que vai acontecer? Eles sabem que o fim é inevitável, que vão morrer nesse dia e que ninguém sobreviverá. Então, é melhor pensar no que cada um representa para o outro e procurar as pessoas mais chegadas. Eu acho que seria assim que aconteceria.

O filme é também um manifesto contra as agressões ao planeta e o consumismo exacerbado?Antes de tudo, acho que não deveríamos continuar culpando a China ou a Índia por também quererem ter largo acesso aos bens de consumo. O que acontece é que, há bastante tempo, vendemos um sonho ligado ao consumo material. Mais cedo ou mais tarde, o fim do mundo vai chegar.

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