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"Timbuktu" começa com uma pequena corça correndo e tentando desesperadamente escapar dos tiros disparados por muhadines em um jipe em alta velocidade no deserto do Sahara. A cena seguinte mostra uma dezena de estatuetas e de máscaras de arte cultural africana sendo destruídas a tiros de metralhadora.

Assim como essas, muitas outras sequências do filme do mauritano Abderahmanne Sissako emocionaram ontem a plateia do Festival de Nova York na sessão para o público. O filme é baseado no caso real de Timbuktu, uma cidade do Mali invadida por fundamentalistas islâmicos, que chegaram a matar um casal, em um apedrejamento, apenas por estarem juntos e não serem marido e mulher.

A ação descreve o cotidiano da população à mercê da violência arbitrária dos extremistas. Na vila, quase tudo é proibido: roupas coloridas, o fumo, o canto e até a dança. Roubo e adultério são punidos com a morte. O filme tem uma cena que certamente ficará como uma das mais belas e tocantes do cinema. Os fanáticos proíbem o futebol, mas os habitantes jogam imaginariamente, correndo e fazendo os movimentos do jogo, sem bola e comemorando um gol inexistente.

Timbuktu – que concorreu à Palma em Cannes – é forte e belíssimo. Pena que a exemplo de "Bamako" e "À Espera da Felicidade" , filmes anteriores do cineasta, tenham chegado apenas a um pequeno nicho de espectadores.

Na coletiva com a imprensa, Sissako falou sobre o seu envolvimento pessoal com o filme. "Muitas vezes são as próprias cidades que são tomadas reféns. É um ataque contra uma cultura, uma religião, uma tradição, o que é para mim insuportável. Eu vivi essa realidade e sofri muito com isso. Tentei desempenhar um papel em Timbuktu, o de testemunha", afirmou.

Sobre o cerne do filme, disse que uma das coisas que mais quis destacar foi a questão da enorme resistência daquela população. "Quando eles proíbem o jogo de futebol, eles jogam sem a bola; quando eles proíbem música, ainda assim, eles cantam hinos; e quando a mulher é condenada a 40 chicotadas por ter desrespeitado a lei, mesmo chorando, ela canta enquanto está sendo castigada", ressaltou.

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