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O escritor americano Bret Easton Ellis é um dos poucos integrantes do “Brat Pack” literário a fazer sucesso no século 21 | Divulgação
O escritor americano Bret Easton Ellis é um dos poucos integrantes do “Brat Pack” literário a fazer sucesso no século 21| Foto: Divulgação

Bret Easton Ellis talvez seja o único autor remanescente do grupo conhecido na década de 80 como o "Brat Pack literário" – uma referência ao "Brat Pack" de atores, jovens artistas como Demi Moore e Rob Lowe, que começaram a fazer sucesso na mesma época. Talvez o principal ponto em comum entre o "Brat Pack" de escritores – que contava ainda com Tama Janowitz e Jay McInerney – e a turma do cinema seja o ambiente glamouroso da cidade grande, regado a champanhe e iluminado por luzes de neon, uma das grandes modas da época. É nesse mundo que os livros do autor ganham vida.

Obviamente, Easton Ellis não poderia recriar o mesmo ambiente de suas obras mais famosas (Abaixo de Zero e Psicopata Americano, ambos com adaptações cinematográficas) em pleno século 21 sem um certo anacronismo. Foi preciso que o autor atualizasse seu universo e maturasse os personagens de Abaixo de Zero para construir a perturbada sequência Suítes Imperiais.

O livro começa propondo um interessante jogo entre a vida real e a ficção: narrado na voz de Clay, quase 30 anos mais velho do que o Clay de Abaixo de Zero, Ellis abre Suítes Imperiais comentando justamente seu livro anterior e a adaptação para o cinema, que contou com estrelas como Andrew McCarthy, James Spader e Robert Downey Jr. Nas palavras de Clay: "Fizeram um filme sobre nós. O filme se baseava num livro escrito por um conhecido nosso. O livro era simples,(...), e a maior parte dele era um roteiro fiel. Foi rotulado de ficção (...) e não continha nada que não tivesse acontecido". O protagonista comenta também a qualidade cinematográfica, e as disparidades do filme e da "vida real" de seus personagens, como a morte de Julian Wells – uma adaptação à moral antidrogas que vigorou a partir do fim daquela década. E propõe contar então a história da verdadeira morte de Clay, ocorrida mais de duas décadas após o filme dirigido por Marek Kanievska.

Clay agora é um roteirista de sucesso e volta para Los Angeles para ajudar na escolha do elenco de seu novo filme. Lá reencontra Julian Wells, ainda metido em problemas de toda sorte, e seu ardiloso traficante Rip, que aparenta afeição pelo protagonista ao mesmo tempo em que agencia seus negócios escusos. Porém, quando Clay se envolve com a atriz Rain Turner, capaz de fazer qualquer coisa por um papel em seu novo filme, eventos estranhos começam a acontecer na rotina hedonista do roteirista. Sentindo-se perseguido, Clay descobre aos poucos uma trama sinistra envolvendo pessoas próximas. O que parece ser algo simples se revela apenas a ponta de um enorme iceberg de problemas.

No que tange o clima, Bret Easton Ellis, claramente um autor sombrio, constrói em Suítes Imperiais algo próximo ao filme Cidade dos Sonhos, de David Lynch, e ao livro Vício Inerente, de Thomas Pynchon: lados obscuros e podres de ambientes que nos são familiares pelo excesso de exposição à cultura de entretenimento norte-americana. No conteúdo também o autor é fiel a seu estilo: expondo um universo que na melhor das hipóteses é amoral, Easton Ellis escancara a individualidade, a arrogância e a completa falta de escrúpulos das pessoas responsáveis pela indústria da diversão. A mesma indústria que decai ante seus próprios excessos ao mesmo tempo que se encarrega de formar boa parte da cultura da população.

Serviço:Suítes Imperiais, de Bret Easton Ellis. Tradução de Ryta Vinagre. Rocco, 176 págs., R$ 26,50. GGG1/2

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