Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos: disco foi lançado primeiramente nos Estados Unidos| Foto: Divulgação

Entrevista com Otto, músico e compositor.

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Sobre o que seu novo disco fala, afinal? Fala sobre como estou vendo o mundo. Como eu vejo o mundo é como eu estou. Em cinco anos, casei, descasei, tive filho. Foi tanta coisa para esse disco. Foi tão penoso. Em alguns momentos o mundo estava contra mim. Minha vida estava chata, levava porrada de todo mundo em todo lugar. Acho que ele fala sobre o ser humano que passa pela Terra, sobre esse final e recomeço de século, toda essa melancolia e tristeza, esse vazio e essa descrença. Perdi minha mãe há pouco tempo também. Na verdade eu vivo para tentar entender como é essa porra de mundo.

Quanto o fim do relacionamento com a Alessandra Negrini influiu no trabalho?

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Pois é. As pessoas se espantam com essa coisa de se separar. A importância do fato, na verdade, é a diferença entre o cantor e a atriz. Ela não pode fazer trabalho autoral, enquanto eu suo, me espremo para tentar tirar algo de mim. Já passei por várias separações e elas são iguais. Mas aí fui pai, minha mãe morreu agora... te digo que vários processos foram mais relevantes. Se for prático, 30% do disco é inspiração baseada na separação. Acho que a música "O Leite" é a que fala mais abertamente disso. "Crua" é mais o casco, é sobre a dor que todo mundo tem que sentir uma vez na vida.

Você optou por lançar o trabalho primeiro nos Estados Unidos. Como foi e por quê dessa escolha?

Eu tenho 40 anos e batalho pelas minhas coisas. A mídia por aqui soa indiferente e parece que eles dizem assim: "Vou te botar na­­quele lugar ali e esperar você se­­car". É difícil. A gente vai lutando por espaço na medida em que recebemos porrada. E lá foi espetacular. Foram dois shows em Chicago e um em Nova York.

O que achou de ser chamado de "Moby do sertão" pelo The New York Times?

Achei um luxo. A comparação foi maravilhosa e, para mim, tem muito valor. E tem a ver. Me considero inventivo também e vivo produzindo coisas. E essa comparação não é pejorativa. Eu sou da roça sim, mas a música dos recantos do mundo é importante. Muitos dos grandes da música vieram do interior. A roça muda a música.

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Quem te ouve hoje?

Olha, se me matassem, iria ter muita gente chorando no enterro. Acho que tenho um público grande, que me acompanha de verdade. Sinto isso nos shows e faço um trabalho cirúrgico com meus fãs. Essa é a minha defesa: a relação com o público. E tive sorte de conhecer o Fred 04 e o Chico (Science). Sabia que estava entrando em uma portinha da MPB. Espero contribuir para o meu país. Porque a música brasileira é respeitada. Então temos que ir furando, perfurando.

Onde está o manguebeat?

Ele está pavimentado em mim, no meu processo de criação. Nós, de lá de cima, não temos apoio, mas temos o talento e o público que nos aprova. O Dengue, o Catatau, a turma toda está junta. Não é mais um movimento, mas uma cooperativa de amigos. O mangue é isso. Não tocamos em rádio, ninguém faz reality show com a gente, mas conseguimos muita coisa. E existe algo desde aquele tempo do Chico que está nos segurando. A essência é essa, já que nunca vamos ter nada de mão beijada. (CC)

Leia a íntegra da entrevista no Blog do Caderno G

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