• Carregando...
Nas aulas, Rava (à esquerda) trata do reparo e da manutenção de diversos materiais, como tapeçaria, metal e renda | Humberto Imbruniso/Divulgação MON
Nas aulas, Rava (à esquerda) trata do reparo e da manutenção de diversos materiais, como tapeçaria, metal e renda| Foto: Humberto Imbruniso/Divulgação MON

Os jalecos brancos, luvas descartáveis e ambiente impecavelmente limpo dão mais a impressão de um hospital, clínica ou algo parecido. Mas, durante toda esta semana, 30 profissionais de diversos estados do Brasil vão colocar os pincéis e ácidos para funcionar no restauro de obras de arte contemporâneas das décadas de 1960 e 1970, no laboratório do Museu Oscar Niemeyer (MON), com a orientação do italiano Antonio Rava, considerado um dos maiores especialistas da área.

Realizado em parceria com a Associação Brasileira de Conservadores-Restauradores de Bens Culturais (Abracor), o MON analisou durante dois meses o currículo dos alunos e resolveu trazer o italiano, que é professor na Universidade de Turim, para sanar a falta de informação sobre restauros na arte contemporânea. "Há muita carência, já que a formação dos restauradores é mais voltada para arte antiga e moderna", diz a coordenadora de museologia, acervo e conservação do MON, Suely Deschermayer, que trabalha há 28 anos com restauração de obras de arte.

Uma obra de tapeçaria da artista Janete Fernandes, do acervo do Museu de Arte Contemporânea (MAC), com problema de fungos e sujeira, uma escultura de ferro de Renato Camargo e quadros que mesclam vários materiais como renda, papel e guache são alguns exemplos do que será restaurado pelos alunos. A mistura de materiais diversos, segundo Rava, é um dos desafios para a restauração da arte contemporânea. Por isso, de acordo com ele, os museus, tanto no Brasil como no mundo devem se preocupar em formar equipes multidisciplinares. "Engloba várias especialidades, como madeira, papel e escultura. E não é possível conhecer e saber de todas as áreas. O que é preciso é um número maior de profissionais."

Rava salientou também que é necessário existir uma restauração preventiva, intervindo nas obras nos primeiros sinais de deterioração. Ele citou como exemplo o plástico, muito usado em obras contemporâneas. "Com o tempo, o plástico muda as características químicas. O que se tem de fazer é estacionar o problema, controlando a umidade e o pó, para impedir a deterioração da obra."

Identidade

O professor também frisou que os profissionais da área de restauração devem ter cuidado com a interferência na identidade do artista, não modificando cores e buscando ao máximo a utilização de materiais iguais ou muito próximos aos usados na época de execução da obra, além de sempre datar os reparos realizados. Questionado sobre qual o maior desafio para recuperação de obras de arte recentes, Rava disse que não há uma "resposta pronta". "É uma pergunta frequente, mas temos vários problemas diferentes. Algumas obras de arte foram feitas para desaparecer, e os museus devem respeitar isso. Cada caso é uma análise diferente."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]