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A livraria mantém em suas estantes títulos raros e o chamado “fundo de catálogo” de editoras | Leticia Akemi/Gazeta do Povo
A livraria mantém em suas estantes títulos raros e o chamado “fundo de catálogo” de editoras| Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo

Não foram poucas vezes que Thiago e Frederico Tizzot se depararam com fregueses que não sabiam ao certo se a livraria Arte & Letra, fundada pelos dois junto com a mãe, Iara, em 2006, era um sebo ou meramente uma biblioteca do Lucca Café, onde a loja era estabelecida até o ano passado. A razão era até compreensível: não é comum encontrar em outras livrarias livros velhos, já com as páginas amareladas e a capa desbotada. O que os mais desavisados tomam por livros usados é, na verdade, uma das principais peculiaridades da simpática livraria que hoje mora nos fundos da Casa de Pedra, no Batel: a preservação de títulos raros e o chamado "fundo de catálogo" – livros que já tiveram seu momento e que hoje permanecem ao sabor de curiosos e interessados tardios.

"Como a livraria é pequena, precisamos selecionar bem o catálogo", explica Thiago Tizzot, que diz priorizar livros de alta qualidade literária dos quais gosta ou, pelo menos, considera importante. "Nenhuma livraria vai ter todos os livros do mundo, é preciso escolher. Gosto de pensar que quando você opta por colocar um título na sua loja, você faz uma indicação para os leitores", acredita. Dessa forma, os três blocos de prateleiras em que se divide a Arte & Letra guardam algumas preciosidades da literatura, entre títulos menos contemplados em estantes de megastores e livros antigos já esgotados nas editoras.

Entretanto, ainda que o espaço seja uma situação que favoreça a seleção de títulos, não há uma pressa por entupir as estantes de livros. A maioria delas é espaçada, e mais se assemelha a um expositor do que às longas e opressivas colunas de lombadas de livro das grandes livrarias. "Muitas vezes a capa ajuda na descoberta de um autor ou livro por parte do leitor. A gente sabe que não vai mudar o mercado editorial fazendo isso, mas colocar um autor mais desconhecido em destaque e o apresentar assim para duas ou três pessoas já é contribuir para a formação de leitores da cidade. Por isso, preferimos não encher as prateleiras", explica o sócio-proprietário da Arte & Letra.

Classificação

O espaço menor oferece outras oportunidades. Sem qualquer classificação alfabética, os livros da Arte & Letra são organizados, segundo o livreiro, por afinidade. Sobre sessões peculiares, como "Livros sobre Livros", "Autores Latino-ame­­ricanos" e "Prêmios Nobel", são dispostos títulos que, na visão dos organizadores, dialogam entre si e permitem descobertas: "O escritor Enrique Villa-Matas, por exemplo, cita em seus ensaios obras clássicas de nomes como Robert Walser e Laurence Sterne. Esses autores estão na prateleira do lado, de ‘Grandes Histórias’. Isso permite que um leitor mais interessado siga um fio condutor que o leva a outros livros".

O restrito grupo de leitores que o acervo igualmente reduzido pode sugerir, entretanto, é o bastante para formar a clientela da livraria. "As pessoas gostam de vir aqui porque podem conversar sobre livros com quem os selecionou, e com outros fregueses que se interessam pelos mesmos autores. Tem gente que compra um livro por semana aqui, outros passam uma vez por mês e compram cinco de uma vez. Para nós é o bastante", afirma Tizzot, e completa: "As grandes livrarias hoje estão mais ameaçadas do que as pequenas. A estrutura de megastore em shopping exige uma venda muito maior de volumes, e a grande quantidade no acervo muitas vezes desanima as pessoas a descobrir livros novos. Preferem comprar pelo site. As pessoas estão redescobrindo nas lojas pequenas o prazer de ir a uma livraria e descobrir um autor. Há uma predileção recente pelo que é pequeno e customizado".

Raridades

Cofira alguns livros pouco encontrados em livrarias que constam no acervo da Arte & Letra:

Então Tá, Jeeves, de P.G. Wodehouse (Globo)

Uma das poucas obras do escritor cômico britânico P.G. Wodehouse, Então Tá, Jeeves é considerado um expoente da literatura de humor, e um dos poucos romances cômicos existentes na literatura traduzida para o português.

O Labirinto da Solidão, de Octavio Paz (Paz e Terra)

Obra importantíssima da carreira do prêmio Nobel mexicano Octavio Paz, O Labirinto da Solidão é um ensaio sobre o homem latino-americano no contexto da história mundial.

Patty Diphusa, de Pedro Almodóvar (Azougue)

Parte da coleção Devassa, da Azougue Editorial, Patty Diphusa é a estreia literária do diretor espanhol Pedro Almodóvar, que foi publicada originalmente na forma de contos na revista La Luna.

Memorial do Convento, de José Saramago (Bertrand Brasil)

Uma das obras mais representativas do prêmio Nobel português, Memorial do Convento é um dos únicos livros de José Saramago editados pela Bertrand Brasil, junto com Levantando do Chão, um de seus primeiros romances.

Serviço: Arte & Letra. Rua Pres. Taunay, 130 – fundos da Casa de Pedra. (41) 3223-5302.

Interatividade

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