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A literatura, para se manter, tem de estar além do suporte. A afirmação é do escritor mineiro radicado em São Paulo Luiz Ruffato, autor do projeto Inferno Provisório, que prevê cinco romances (quatro já foram publicados). O prosador faz miséria mesmo no tradicional livro impresso. O seu texto polifônico tem negritos, itálicos e tipologias variadas, o que confere, a cada página, o aspecto de uma pintura.

Ruffato, autor experimental por excelência, não vê problema se algum escritor incorporar som e imagem, a partir da internet, em um texto literário. "A questão é se convence o leitor. A ideia de usar imagens para sustentar as palavras é antiga. Se pensarmos, por exemplo, nos livros ilustrados podemos retroagir essa ideia pelo menos à Idade Média, quando muitas vezes eram usadas imagens para contar as histórias sacras, objetivando atingir, além do leitor, o não leitor", afirma Ruffato.

Carlos Eduardo de Magalhães compartilha do ponto de vista de Ruffato, e afirma: "No que diz respeito à literatura, a plataforma é desimportante, e pode estar sofrendo uma mudança como a que o mundo viveu no século 15, com a imprensa, mas a palavra escrita a define."

Magalhães, autor, entre outros, dos romances Dora e Pitanga, analisa que o problema de se publicar e produzir literatura em uma plataforma como a internet tem a ver com o tempo. "A ansiedade do instantâneo faz com que o conteúdo da internet tenha pouca duração. Como a de um slogan bem feito em propaganda. Vai mais para o entretenimento superficial, alguns de altíssimo nível e com ótimas ‘sacadas’, e menos para arte. A arte é lenta, nos deixa meio num estado de torpor, e o que define a internet é a velocidade", argumenta.

O escritor admite que, fato consumado, há uma mudança em curso. "O livro digital veio para ficar, mas quando, como (em substituição ou convivência) e em que segmentos vai se estabelecer (didático, paradidático, literatura, todos) ainda é impreciso", diz Magalhães. O assunto o interessa pois, além de ser autor, ele está à frente da Grua Livros, editora paulistana com 15 títulos no catálogo. "O livro, se a plataforma é de papel ou eletrônica, tanto faz, será preservado; será, mais do que nosso costume de leitura, o preço a ser pago pelo consumidor que vai definir a plataforma", finaliza Magalhães.

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