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Little Joy: Rodrigo Amarante, Binki  Shapiro e Fabrizio Moretti  encerram turnê no Brasil antes que as atividades do trio sejam suspensas devido ås voltas de Los Hermanos e The Strokes | Divulgação/ DeWilde
Little Joy: Rodrigo Amarante, Binki Shapiro e Fabrizio Moretti encerram turnê no Brasil antes que as atividades do trio sejam suspensas devido ås voltas de Los Hermanos e The Strokes| Foto: Divulgação/ DeWilde

Opinião: Hype com motivos

Há quem jure que parece The Strokes. Outros insistem em procurar resquícios de Los Hermanos nas canções do Little Joy – projeto que reúne Rodrigo Amarante (Los Hermanos), Fabrizio Moretti (The Strokes) e Binki Shapiro (namorada de Moretti).

Mas o fato é que as canções presentes no álbum de estreia do trio – lançado há poucos dias no Brasil – soam completamente diferentes do que fazem as formações originais de ambos os músicos.

A começar pela faixa de abertura do disco, "The Next Time Around", cuja sonoridade retrô lembra as origens do reggae jamaicano – destaque aqui para a graciosidade de Binki cantando trechos em português – o que se ouve é algo muito mais original.

Produzido por Noah Georgeson (que participa dos shows brasileiros como guitarrista), o álbum exala leveza e espontaneidade em canções como "Brand New Start", "No One’s Better Sake" e "Keep Me in Mind" – trinca que faz dançar ao som de folk, ska e indie rock.

A variedade instrumental dos arranjos – de ukulele a melotron – também revela um certo grau de experimentalismo, que pode até não ser fielmente reproduzido em cima do palco, mas é o que torna ainda mais interessantes as canções simples e diretas escritas pelo trio.

Em poucos casos o hype criado em torno de novas formações se justifica. Com o Little Joy, a originalidade e a despretensão são explicações mais que suficientes. GGGG

Juliana Girardi, jornalista

Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília tiveram sua vez na semana passada. Amanhã será a hora de Curitiba receber a turnê brasileira de um dos trios mais badalados do indie rock contemporâneo: o Little Joy, projeto que reúne os brasileiros Rodrigo Amarante (Los Hermanos), Fabrizio Moretti (The Strokes) e a norte-americana Binki Shapiro (atual namorada de Moretti).

O projeto paralelo de Amarante e Moretti – o primeiro, de folga "por tempo indeterminado" do Los Hermanos, e o segundo, aguardando o início das gravações do novo álbum dos Strokes – começou de forma despretensiosa, há pouco mais de dois anos, em um encontro entre os dois músicos, quando suas bandas originais se apresentavam no mesmo festival, em Lisboa.

Com a mudança de Amarante para Los Angeles – onde ele participou das gravações do álbum Smokey Rolls Down Thunder Canyon, do cantor e compositor norte-americano Devendra Banhart – a amizade com Moretti e Binki acabou rendendo uma parceria musical de fôlego. Lançado em novembro do ano passado, o álbum (homônimo) de estreia do trio, que chegou a poucos dias às lojas brasileiras, já figura em diversas listas de melhores de 2008.

Mas o braço brasileiro da turnê, iniciada no ano passado, antes mesmo do lançamento oficial do disco, pode ser o último suspiro do Little Joy. O futuro incerto da formação deve-se às voltas às atividades do Los Hermanos (que faz os shows de abertura da turnê do Radiohead no Brasil, em março) e The Strokes (que entra em estúdio para a gravação do novo disco ainda este mês). Em entrevista à Gazeta do Povo, Rodrigo Amarante fala sobre o bom momento do Little Joy e dá mais pistas quanto a uma possível continuidade do trio.

Naquele primeiro encontro entre você e o Fabrizio Moretti, em Lisboa, há dois anos, como ficou claro que uma parceria musical poderia funcionar?

Rodrigo Amarante – O que nos levou a fazer música foi a amizade. Quando nos conhecemos, ficamos amigos muito rápido e a afinidade foi incrível. Naquele dia, em Lisboa, a gente só combinou de fazer música juntos algum dia, não imaginávamos que isso fosse acontecer tão rápido. Mas, logo em seguida, o destino se encarregou de nos colocar na mesma cidade (Los Angeles) e aí foi.

Pode nos falar um pouco sobre a dinâmica de composição das canções do Little Joy?

A gente começou com umas músicas que o Fabrizio tinha, algumas incompletas, outras inteiras. A Binki também tinha uma música e assim, cada um colocou o que tinha na mesa. Depois começamos a compor juntos e foi bastante coletivo. Tudo foi dividido e todos deram opinião sobre letras e arranjos. Foi algo muito bom e novo pra mim, pois não era acostumado a compor na presença de outras pessoas e muito menos a desenvolver um disco inteiro assim, dividindo tudo e levando em consideração a opinião dos outros membros da banda até a última instância. Enquanto todo mundo não estava feliz, a gente não parava de trabalhar.

Então, é possível dizer que o Little Joy foi o espaço que você e o Moretti encontraram para fazer música de uma maneira mais descompromissada, sem pressões mercadológicas ou mesmo criativas?

Para falar verdade, eu nunca fiz música sob pressões mercadológicas. Acho que ele também não. Mas a diferença desse disco é que não tínhamos um contrato com gravadora, a banda sequer tinha um nome. Fora isso, nós achávamos que nem conseguiríamos fazer shows com essas músicas, pois imaginávamos que o Strokes fosse começar a gravar novas músicas no ano passado, o que acabou sendo adiado para fevereiro deste ano e nos deu tempo para fazer uma turnê. Não é que antes fôssemos pressionados, nem nada disso, mas é que dessa vez, foi uma coisa muito despretensiosa e espontânea.

Como vocês conheceram a Binki Shapiro e de onde ela (musicalmente) surgiu?

Eu a conheci por meio do Fabrizio, que a conheceu por causa de um amigo em comum de Los Angeles. Quando conheci a Binki, eu estava gravando com o Devendra (Banhart) e ela, de vez em quando, vinha nos visitar no estúdio. Ela nunca teve banda, mas sempre fez músicas sozinha e cantava. Como passávamos a maior parte do tempo juntos, começamos a escrever músicas e ela também e assim formou-se o trio, de uma forma natural. Antes de ser algo musical, foi um lance afetivo. E aí, graças a Deus, a musicalidade se desenvolveu muito bem entre nós três.

O primeiro álbum de vocês foi lançado a pouco mais de um mês e já ganhou destaque em várias publicações como um dos melhores lançamentos do ano passado. Como tem sido para vocês essa recepção tão positiva de crítica e público?

Tem sido incrível. Foi muito além das nossas expectativas ter entrado em várias listas de melhores do ano mundo afora. Cada reação é uma surpresa, porque, há pouco atrás, estávamos lá, na sala de casa, tomando um vinho e fazendo música sem pensar muito no que ia dar. E agora estamos aqui, viajando o mundo.

E como vem sendo a etapa brasileira da turnê?

Os shows que fizemos até agora foram incríveis, todos lotados. Em Porto Alegre foi absurdo! As pessoas já estão cantando todas as músicas e eu estou muito feliz. Fiquei esse tempo todo fora do Brasil e não sabia bem como o pessoal ia receber nossas músicas.

Quanto ao repertório do show, além das músicas do disco, estão incluindo mais alguma coisa?

A gente acaba tendo que tocar mais coisas, porque o disco é curto, não para os padrões de CD, mas para um show. Então, além do disco inteiro, tocamos mais uma música nova e dois covers, de canções que costumamos tocar em passagens de som.

Após os shows do Little Joy no Brasil, você volta para Los Angeles ou permanece aqui para os ensaios do show que o Los Hermanos faz em março, com o Radiohead?

Vou ficar no Brasil para esses ensaios e depois eu não sei como vai ser.

O Little Joy é provisório?

A gente achava que era provisório, mas agora não é mais. Está sendo tudo muito bom. Ainda não sabemos como, mas vamos dar um jeito de continuar.

Serviço

Show com Little Joy (EUA). Com as bandas Sabonetes e R3. John Bull Music Hall (R. Eng. Rebouças, 1.645). Dia 4, às 22 horas. Ingressos a confirmar. Mais informações pelo telefone (41) 3315-0808.

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