O quarteto carioca O Rappa: instinto de sobrevivência| Foto: Gabriel Wickbold/Divulgação
CD:Nunca Tem Fim...- O Rappa. Warner Music, R$ 29,90. Pop rock.

A belíssima ilustração da capa do sexto álbum de inéditas do Rappa – Nunca Tem Fim..., recém-lançado pela Warner Music –, assinada pelo desenhista brasileiro Mike Deodato Jr., do elenco da editora Marvel, rende uma boa analogia com o atual cenário do pop rock nacional: a logo da banda (metamorfoseada numa espaçonave) decola das ruínas do Rio de Janeiro, com o Cristo Redentor semissoterrado por escombros apocalípticos. Assim como o pop rock agoniza no desolador cenário da música popular brasileira contemporânea, ferido de morte pela falta de criatividade e pelo avanço avassalador de gêneros como o sertanejo universitário, o funk e o pagode pop.

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Mas, ao contrário do que sugere a arte da capa, O Rappa está longe de representar a salvação do estilo, que nos anos 1980 e 1990 era o preferido dos jovens brasileiros. Ao ouvir o álbum, a sensação é a de que o grupo – que este ano completou 20 anos de carreira – luta pela própria sobrevivência, e para tentar manter alguma relevância nessa terra devastada.

Não que Nunca Tem Fim... seja um disco ruim (com o perdão da rima). É um álbum muito bem produzido, com uma qualidade de som excelente e um capricho poucas vezes visto em lançamentos nacionais. A masterização, por exemplo, foi feita na Califórnia por Stephen Marcussen, que já trabalhou com gente como Paul McCartney, Stevie Wonder, Nirvana, Smashing Pumpkins e Red Hot Chili Peppers.

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A banda também usa e abusa de instrumentos, efeitos, samplers, sintetizadores e da mais alta tecnologia de estúdio. Algumas músicas são interessantes, como a faixa de abertura, "O Horizonte É Logo Ali", um dub envolvente, com destaque para a hipnótica linha de baixo de Lauro Farias; ou "Doutor, Sim Senhor" e "Vida Rasteja", duas canções poderosas, com as típicas letras engajadas da banda carioca.

Mas é justamente na qualidade das letras que O Rappa atual deixa a desejar – tanto em relação aos trabalhos mais recentes, como 7 Vezes (2008) e O Silêncio Q Precede o Esporro (2003), e muito mais se comparado com a época em que o ex-baterista Marcelo Yuka era o principal letrista do grupo, entre 1993 e 2001.

Não que a música pop tenha a obrigação de ser politizada e irretocável liricamente. Mas que dói ouvir versos como "Todos os dias são fim de tudo/ Segundas, sextas, ainda não é o fim do mundo" (de "Sequência Terminal") de uma banda que já cantou "A minha alma tá armada/ e apontada para a cara do sossego" (de "A Minha Alma", assinada por Yuka), dói.