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Francisco Miguez e Laís Bodanzky: melhor ator e diretora, por As Melhores Coisas do Mundo, também vencedor do prêmio de melhor filme em Recife | Fotos: Divulgação
Francisco Miguez e Laís Bodanzky: melhor ator e diretora, por As Melhores Coisas do Mundo, também vencedor do prêmio de melhor filme em Recife| Foto: Fotos: Divulgação

Não se Pode Viver sem Amor causa estranheza

O diretor Jorge Durán, visivelmente aborrecido, teve de ouvir de um jornalista perguntas agressivas do tipo "O que é o seu filme?" ou "De onde vêm os poderes do protagonista?" Sinal de que não achava necessário explicar Não se Pode Viver sem Amor, longa de ficção apresentado na Mostra Competitiva do 14.º Cine PE e que deve estrear nos cinemas no segundo semestre deste ano, lançado pela distribuidora Pandora.

Depois de refletir a realidade social da classe média em contato com a periferia, a partir de um triângulo amoroso entre jovens universitários (Caio Blat, Maria Flor e Alexandre Rodrigues), em Proibido Proibir (2006), Durán se desfez das amarras com a realidade imediata e factível. Criou para o ator-mirim Victor Navega Motta, o aparente protagonista de Não se Pode Viver sem Amor, um personagem capaz de interferir no rumo dos acontecimentos, contra todas as leis naturais, por simples força da sua vontade. Ou assim a história se parece pelos olhos dele.

Surpresa

Não se Pode Viver sem Amor é uma espécie de conto de Natal aberto ao realismo fantástico ou aos delírios infantis, dependendo da interpretação do espectador. Nesse desviar-se completamente da sua (breve) obra precedente como diretor, Durán surpreende. E gera estranhamento, já que o cinema brasileiro não costuma caminhar pelas vias do fantástico, traço mais recorrente na da ficção latina ou nos filmes de super-herois americanos, por exemplo. (LR) GGG

  • Victor Navega Motta: poderes de interferir na trama de Não se Pode Viver sem Amor
  • Conheça os premiados no 1º Cine PE Festival do audiovisual

Recife - Laís Bodanzky já nem sabia mais por que estava subindo ao palco do cinema São Luiz, na noite de domingo (2). A certa altura da cerimônia de encerramento do 14.º Cine PE Festival do Audiovisual, teve de perguntar à apresentadora por qual categoria havia ganhado o troféu Calunga que segurava nas mãos: um entre vários. A diretora, que em 2001 saiu carregada de nove das 11 estatuetas entregues naquele ano, por sua estreia com o filme O Bicho de Sete Cabeças, repetiu o mesmo feito como a grande premiada da edição realizada entre 26 de abril e 2 de maio deste ano.

As Melhores Coisas do Mundo, seu terceiro longa-metragem, faturou oito troféus, entre eles o de melhor filme, direção e o prêmio da crítica. Em um ano sem fortes concorrentes, o júri preferiu, em vez escolhas estéticas mais arriscadas, como o filme de Jorge Durán, Não se Pode Viver sem Amor (leia texto abaixo), valorizar a produção mais bem realizada.

O prêmio de melhor ator ficou com Francisco Miguez, o estudante de ensino médio escolhido pela produção do filme para viver o personagem Mano entre 2,5 mil adolescentes de colégios paulistas, sem nunca ter atuado antes. O garoto-revelação costumava dizer, após as filmagens, que não pretendia seguir a carreira. Pelo seu discurso de agradecimento, porém, dá sinais de que começa a repensar a decisão: "Toda vez que eu encontro a Denise Fraga, ela me pergunta se eu já mudei de idéia sobre não querer ser ator. Está cada vez mais ‘foda’ dizer não."

O filme foi lembrado ainda na escolha de melhor roteiro. Luiz Bolognesi, marido de Laís, dividiu o prêmio com Wolney Atalla e Caio Cavechini, os roteiristas do documentário Sequestro, dirigido por Atalla.

Thriller

Sequestro registra os movimentos da Divisão Anti-Sequestro de São Paulo, acompanhando a ação da polícia na tentativa de desfazer cativeiros e prender raptores, em um tom de thriller policial assumidamente inspirado na série de tevê 24 Horas. O suspense da investigação e a emoção das famílias no aguardo desesperado impactaram a plateia recifense, que reagia aos acontecimentos mostrados durante a apresentação, na semana passada. Levou também o Calunga de melhor montagem.

Paloma Duarte ganhou como melhor atriz pelo papel de Marina, a jovem que desestabiliza o romance do casal-título no musical Léo e Bia, dirigido pelo cantor e compositor Oswaldo Montenegro, em sua estreia atrás das câmeras. Outro que levou apenas um troféu foi Não se Pode Viver sem Amor, terceiro longa dirigido pelo roteirista Jorge Durán. Foi contemplado com o prêmio especial do júri, dedicado ao ator Rogério Fróes, que interpreta um morto durante a maior parte do tempo do filme. O veterano fez o melhor comentário da noite, citando Paulo José, que igualmente passa quase todo Quincas Berro D’Água (apresentado no sábado, fora de competição) sem vida: "Eu achava que ia ganhar um prêmio aqui hoje, porque estava disputando com o Paulo José o troféu de melhor defunto".

O público escolheu como melhor longa O Homem Mau Dorme Bem, contemplado pelo júri nas categorias de coadjuvantes. O único competidor a sair sem prêmios foi o documentário Cinema de Guerrilha, de Evaldo Mocarzel, sobre jovens diretores de cinema da periferia paulista.

* A repórter viajou a convite do 14º Cine PE Festival do Audiovisual.

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