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A partitura de “Tristão e Isolda” deu um novo gás para o gênero da ópera, que primava por ser comercial demais, além de abrir novas perspectivas para o tratamento das dissonâncias e impor outros paradigmas aos cantores.

Suas harmonias iniciais foram uma das sequências mais comentadas em toda a história da música, incluindo o que ficou conhecido como o “acorde de Tristão”. Nome que, aliás, deu título a um belo romance de Hans-Ulrich Treichel (bem traduzido para o português, em 2003). A influência de Wagner chegou até a literatura atual.

“Tristão e Isolda” seduziu multidões

Obra mais influente de sua época, ópera estreou há 150 anos em Munique, depois de Wagner cogitar uma première no Brasil

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Numa feliz coincidência, essa harmonia misteriosa e cheia de volúpia serviu maravilhosamente para uma trama que transporta uma história medieval de um amor proibido para o mundo psicologicamente atormentado da época do compositor.

Thomas Puschmann, em seu ensaio “Richard Wagner – Um Estudo Psiquiátrico” (publicado em Berlim já em 1873), deixa bem evidente que, apesar do egocentrismo do compositor, que ele critica de forma áspera, as raízes da tragédia grega e de uma busca da noite para liberar os sentidos tornam sua obra mais próxima de um complexo drama psicológico do que uma ópera para simples entretenimento. A mensagem espiritual foi mesmo o maior legado do autor. Mais do que uma ópera, “Tristão e Isolda” é realmente um drama musical.

Pares

Mesmo músicos não muito simpáticos à obra de Wagner, como Johannes Brahms e Clara Schumann, compraram a partitura para conhecê-la melhor. Brahms precisou procurar um médico, pois passou mal vendo suas harmonias dissonantes. Clara ficou escandalizada com a glorificação dos amantes adúlteros.

Apesar dessas vozes descontentes, “Tristão e Isolda” deixaria marcas até mesmo na obra do arquirrival de Wagner. Giuseppe Verdi, em sua ópera “Otello”, copiou descaradamente não só a técnica dos leitmotiven (motivos condutores), mas a própria ideia musical do liebestod (morte de amor), a genial parte conclusiva da ópera de Wagner.

Páginas de Claude Debussy, como seu “Prelúdio para a Tarde de um Fauno”, revelam uma apropriação inconfessada da sensualidade do Prelúdio de “Tristão e Isolda”, cujas dissonâncias ousadas – como o inédito acorde de sétima maior com que se inicia o segundo ato –, abriram os caminhos para os compositores da nova geração como Richard Strauss e Arnold Schoenberg.

OC
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