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Uma das maiores obras-primas do Renascimento italiano está retornando ao público depois de longos dez anos de estudo e restauração, que testaram tanto a paciência humana quanto a tecnologia de ponta.

O quadro "Madona do Pintassilgo", de Rafael, é um sobrevivente. O óleo sobre tela de 107 cm por 77 cm, que mostra a Madona com duas crianças acariciando um pintassilgo, sobreviveu a tudo, desde o desabamento da casa que o abrigava, em 1547, até a devastação causada pelo passar do tempo e os erros de intervenções passadas.

O resultado da restauração é espantoso. As camadas de sujeira marrom acumuladas ao longo dos séculos desapareceram. As faces da Madona agora aparecem rosadas. Suas vestes são vermelhas e azuis profundas, e quase se consegue ouvir o cascatear de um riacho na paisagem toscana que forma o pano de fundo do quadro.

"Esse paciente nos provocou os maiores arrepios e muitas noites sem dormir", disse Marco Ciatti, diretor do departamento de pinturas do Opificio Delle Pietre Dure, de Florença, um dos mais prestigiosos laboratórios de restauração artística da Itália.

"Passamos dois anos inteiros estudando o quadro antes de tomar a decisão de seguir adiante, porque, devido aos danos sofridos no passado, claramente visíveis nos raios-X, a tentativa de restauração poderia dar errado."

Rafael, que viveu entre 1483 e 1520, pintou o quadro por volta de 1506, como presente de casamento para o comerciante de lã Lorenzo Nazi.

Conhecido na Itália como a Madonna del Cardellino, o quadro mostra a Virgem com duas crianças que simbolizam Cristo e João Batista. O pintassilgo é símbolo da futura paixão de Cristo, porque o pássaro se alimenta entre espinhos.

Quando a casa de Lorenzo Nasi desabou, em 1547, a obra se quebrou em 17 pedaços. Ridolfo di Ghirlandaio, um contemporâneo de Rafael, usou pregos para juntar os pedaços e tinta para ocultar as fraturas.

Mais tarde o quadro entrou para a coleção da poderosa família Médici, de Florença, que encomendou várias intervenções visando cobrir os traços das fissuras.

Nos últimos dez anos, Patrizia Riitano, de 52 anos, viveu, respirou, tocou e sonhou com Rafael.

"Sou apenas uma técnica", disse com humildade a restauradora chefe do projeto. "Mas acho que provavelmente conheço essa pintura quase melhor que o próprio Rafael. Ele a olhava, é claro, mas eu venho olhando-a com microscópio por todos esses anos."

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