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Cenovicz e Bueno contracenam em O Inoportuno, com texto de Harold Pinter: inércia | Chico Nogueira/Divulgação
Cenovicz e Bueno contracenam em O Inoportuno, com texto de Harold Pinter: inércia| Foto: Chico Nogueira/Divulgação

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O Inoportuno

Teatro Falec (R. Mateus Leme, 990) (41) 3352-2685. De quarta-feira a sábado, às 20 horas, e domingo, às 18 horas. R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Entrada franca às quartas e quintas-feiras. Até 14 de julho. Classificação indicativa: livre.

O espectador de O Inoportuno entra no pequeno auditório Falec – que, apesar de não ter inclinação, o que dificulta a visibilidade, tem uma linda galeria – e dá de cara com um palco caótico, de onde aquecedores e baldes enferrujados pendem do teto, e escadas, bonecas, caixas e pedaços de madeira formam um relevo de quinquilharias. É até difícil para os três atores, quando entram, moverem-se entre as duas camas que margeiam o cenário, assinado por Maureen Miranda.

Ela também responde pelos figurinos, que fazem imaginar todo um universo para cada um dos personagens: um homem de raciocínio lento, um mendigo e um jovem empresário.

Em seus diálogos, entradas e saídas se resume o espetáculo – o teatro feito a partir do banal costuma ser dos melhores.

No subterrâneo, o poderoso texto de Harold Pinter, pelo qual a confusão se revela não apenas física, mas também espiritual. Escrito em 1960, The Caretaker apresenta dois irmãos, que pouco se falam enquanto transitam pelo apartamento-depósito. Logo no início, o mais velho, Aston, que parece sofrer de transtornos mentais, acolhe o maltrapilho Davies.

O velho recebe com uma mão e estende a outra para pedir mais, sempre justificando sua condição econômica com o fato de não dispor do par de sapatos ideal. Se os tivesse, poderia ir até o interior buscar seus documentos e referências para um emprego. Mas...

Os irmãos também falam mais do que agem. Em círculos, o grupo repete seu discurso comodista. Para Rafael Camargo, que "encostou" a direção para atuar, depois de muito tempo longe do palco, a peça fala sobre a dificuldade de comunicação e a inércia. "É como se cada um vivesse algo que não escolheu."

Quem procurar um enredo realista poderá sair em dúvida se encontrou uma boa história. Afinal, a sinopse seria "Aston, e depois Mick, oferecem um cargo de zelador a Davies, que investiga o trabalho que isso irá lhe custar enquanto curte o período de abrigo grátis". Enquanto a trama transcorre, Aston relata seu triste período vivido num sanatório, e Mick se gaba de como é bem-sucedido por possuir seu próprio caminhão.

As atuações de Rafael (Aston), Zeca Cenovicz (Davies) e Dimas Bueno (Mick, o irmão mais novo) são precisas, nunca "fingidas". A atenção da plateia é total, sem momentos de distração nesse espetáculo de tensão concentrada dirigido e adaptado por Enio Carvalho.

No cenário, uma moldura vazada leva os homens a, de vez em quando, olhar o horizonte e falar do futuro – mas esses sonhos ficam ali, encerrados no caos da vida.

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