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An Education, de Lone Scherfig, retrata o relacionamento de um homem de 30 anos com uma adolescente | Divulgação
An Education, de Lone Scherfig, retrata o relacionamento de um homem de 30 anos com uma adolescente| Foto: Divulgação

Los Angeles - Durante sessão recente do longa-metragem An Education (ainda sem título em português), do diretor Lone Scherfig, começou uma discussão sobre a história do filme, que retrata o relacionamento de um homem de 30 anos com uma adolescente, na Londres dos anos 1960.

"Existe um certo fator ‘aargh’", comentou uma jornalista presente na plateia. "Não quero ver um adulto dando em cima de uma adolescente. É asqueroso." Ao lado dela, uma publicitária na casa dos 50 anos discordou. "Era assim mesmo quando a gente era menina nos anos 1960", disse. "Um homem mais velho podia chegar e nos arrebatar."

No início da temporada anual de premiações do cinema, a questão central do filme de Scherfig pode ser projetada sobre o campo dos candidatos a prêmios. Será que os eleitores que escolhem os filmes premiados vão optar por histórias que os fazem se sentir bem, ou vão preferir filmes que focam as verdades mais feias, mais "aargh" da vida?

Nos anos anteriores, as pessoas que votaram nos prêmios maiores foram dominadas por um estado de espírito comum. Os filmes que se enquadram nesse estado de ânimo ganham uma vantagem; os que se desviam são prejudicados. Isso ficou claro dois anos atrás, quando Onde os Fracos Não Têm Vez e Sangue Negro – ambos destacando as tendências humanas mais baixas – foram os grandes vencedores. E ficou igualmente claro em 2002, quando a alegria de Chicago derrotou o cinismo sangrento de Gangues de Nova York e a solidão de As Horas.

Este ano, muitos especialistas em Oscar estão ficando malucos, perguntando-se se os cinco trabalhos que serão adicionados à disputa por melhor filme virão da seara dos filmes de arte ou dos que são feitos para o grande público. Com a obrigação de indicar dez títulos ao troféu de melhor filme do ano, a divisão se acirra entre os partidários das histórias que fazem o espectador feliz e as que o deprimem, as que mostram o mundo como ele é e as que retratam um mundo como gostaríamos que fosse.

Os eleitores terão que optar, por exemplo, entre a história de uma garota de um gueto urbano cujo padrasto a violentou repetidas vezes (Precious) e a de um idoso que faz um passeio mágico de balão que reafirma sua alegria de viver (Up – Altas Aventuras). Terão que decidir entre um grupo de homens que desativa bombas e vai para o pesadelo do campo de batalha (Guerra ao Terror) e um grupo de amigas que se diverte em meio ao escapismo de Las Vegas (Se Beber, Não Case).

Essa escolha não será simplesmente uma afirmação cultural. Não é por acaso que, à medida que as unidades de cinema de arte dos grandes estúdios vão perdendo espaço, quase todos os candidatos deprimentes (Pre­cious, Brilho de uma Paixão e Guerra ao Terror) tenham sido produzidos fora do sistema dos grandes estúdios, enquanto quase todos os que celebram o lado mais positivo da vida (Up, Star Trek, Se Be­­ber, Não Case e Invictus) sejam fru­­­tos desse sistema. Antiga­­mente, as divisões de arte dos grandes estúdios produziam filmes sérios de Holly­wood.

Assim, um voto nos filmes mais sombrios poderia ser interpretado como crítica aos estúdios por fecharem essas divisões. Neste ano, os eleitores se verão mais divididos do que nunca. É possível que acabem optando pela via do meio.

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