• Carregando...
Ozzy: um mistério para a ciência e a medicina pelo simples fato de estar vivo | Andrew Winning/ Reuters
Ozzy: um mistério para a ciência e a medicina pelo simples fato de estar vivo| Foto: Andrew Winning/ Reuters

Qual é a sua impressão a respeito de Ozzy Osbourne? O pai de família "lesado", trêmulo e balbuciante de The Osbournes – reality show exibido pela MTV entre 2002 e 2005 –, uma espécie de Homer Simpson "extreme" que, ao invés de trabalhar numa usina nuclear, canta numa banda de rock e, além da cerveja, consome praticamente todas as drogas conhecidas? Um "highlander", um mistério para a ciência e a medicina pelo simples fato de estar vivo, como Keith Richards? O talentoso e carismático – ainda que completamente fora da casinha – "comedor de morcegos" que integrou a formação original do Black Sabbath? Ou o Príncipe das Trevas em pessoa, aliado e parceiro de Lúcifer?

Depois de ler Eu Sou Ozzy, a autobiografia escrita com a ajuda de Chris Ayres, recém-lançada no Brasil com excelente tradução de Marcelo Barbão, você vai virar fã dele (mesmo se odiar a sua música). Vai se dar conta de que, mais que um roqueiro doidão ou uma celebridade de reality show, Ozzy Osbourne é um cara legal – do tipo que você adoraria passar horas num boteco, ouvindo suas histórias. Além de um marido apaixonado, um pai dedicado e carinhoso, um amigo fiel e um artista atencioso e paciente. Fora o talento inato para a comédia.

Não que John Michael Osbourne, nascido em 1948 no subúrbio de Birmingham, na Inglaterra, alguma vez tenha sido um modelo de comportamento. Muito longe disso: abandonou a escola com 15 anos, por causa da dislexia, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (diagnóstico a que teve acesso muitos anos mais tarde, obviamente); na adolescência, tentou ser ladrão – e acabou preso antes de completar 18 anos; logo também desenvolveu uma curiosidade especial por todo o tipo de substância capaz de alterar a consciência – o que o levaria ao alcoolismo e à dependência química. Por causa do álcool e das drogas, muitas vezes foi violento – chegou a ser preso por tentar matar a esposa, Sharon – e irresponsável. Cometeu as maiores loucuras. E viu a morte de perto várias vezes.

O poder de sedução do ex-vocalista do Black Sabbath, além do seu inegável carisma, está na coragem (e bom humor) com que ele se desnuda em praça pública. Ozzy conta tudo, os bons e os maus momentos, com riqueza de detalhes e uma sinceridade desconcertante. Em nenhum momento faz média ou alivia a barra para si mesmo. Ao contrário: confessa inúmeros erros, manifesta arrependimentos e, amaciado pela distância e a maturidade, perdoa.

Aos incrédulos, alerta: "As lembranças de outras pessoas sobre os eventos que estão neste livro podem ser diferentes das minhas. Não vou discutir com elas. Nos últimos 40 anos, tomei muito álcool, cocaína, ácido, sedativos (...) e muitas outras substâncias pesadas (...). Em mais de uma ocasião, tomei todas ao mesmo tempo. (...) O que você vai ler aqui é o que consegui tirar da geleia que chamo de cérebro quando tentei lembrar a história da minha vida".

Esse é o tom. A linguagem, as gírias, os palavrões... a sensação (mesmo na versão em português) é de estar ouvindo Ozzy Osbourne num papo de bar. Algumas passagens – como o striptease em cima da mesa do jantar com o presidente da CBS na Alemanha – são impagáveis; outras – como a morte do guitarrista Randy Rhoads, o câncer de Sharon e a prisão por tentativa de homicídio –, dramáticas. Sem falar na parte histórica, o retrato (ainda que superficial) do surgimento do heavy metal feito por um dos seus maiores protagonistas. Não por acaso, a vida de Ozzy já virou best seller: chegou a ser o mais vendido na lista do New York Times, e atualmente está entre os dez títulos de não-ficção mais vendidos no Brasil. E eu assino embaixo. GGGGG

Serviço:

Eu Sou Ozzy, de Ozzy Osbourne e Chris Ayres. Editora Benvirá, 416 págs., R$ 30.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]