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 | Ilustração: Robson Vilalba
| Foto: Ilustração: Robson Vilalba

Perfil

Saiba mais sobre a trajetória do escritor:

Paulo Henriques Britto nasceu em 1951, no dia 12 de dezembro, no Rio de Janeiro.

Viagens

Viveu nos Estados Unidos em três períodos, morando em Washington (de 1962 a 1964) e na Califórnia, em Los Angeles (1972) e São Francisco (de 1972 a 1973).

Professor

Além de tradutor profissional, poeta e ensaísta, Britto é professor nas áreas de tradução, criação literária e literatura brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio, que lhe concedeu em 2002 o título de Notório Saber.

Traduções

Britto já traduziu cerca de 80 livros, incluindo obras de William Faulkner, Philip Roth, Elizabeth Bishop, Susan Sontag, Paul Auster, Don DeLillo, Thomas Pynchon, Henry James e Jonathan Swift.

Prêmios

Ele venceu o Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira com o livro de poesia Macau (2003), obra com a qual levou também o Prêmio Alceu Amoroso Lima. Venceu duas vezes o Prêmio Alphonsus de Guimaraens, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional, na categoria Poesia, com Trovar Claro (1997) e Tarde (2004).

Bibliografia

Publicou Liturgia da Matéria (Civilização Brasileira, 1982), Mínima Lírica (Livraria Duas Cidades, 1989), Trovar Claro (1997), Macau (2003), Paraísos Artificiais (2004), Tarde (2007) e Formas do Nada (2012), os cinco últimos pela Companhia das Letras.

Fonte: Dicionário de Tradutores, www.phbritto.org e Companhia das Letras.

  • Britto: poemas que exprimem sensações indizíveis

Além de tradutor de um bando estelar de escritores, Paulo Henriques Britto é um senhor poeta. É impressionante o que ele consegue fazer com palavras tão cotidianas.

"Desista: não vai dar certo./ O mundo é o mesmo de sempre,/ desejo é uma coisa cega./ Desista, enquanto é tempo.// As mãos não sabem o que pegam,/ os pés vão aonde não sabem./ As cartas estão marcadas: vai dar desgraça na certa.// O mundo é sempre a esmo,/ desejo é uma porta aberta./ Desista, que a vida é incerta./ Ou insista. Dá no mesmo."

O poema transcrito no parágrafo acima faz parte do livro Formas do Nada e aparece aqui na íntegra porque seria errado citar só um fragmento dele. O mesmo vale para todos os outros. Ainda mais aqueles em que Britto parece edificar uma estrutura que é demolida pelas últimas palavras, transformada por elas.

O desfecho, que ilumina todos os versos anteriores, pode ser sombrio, otimista (algo relutante), ou cético. Mas é quase sempre surpreendente. Como ao escrever: "Ou insista. Dá no mesmo" em um poema que começa com "Desista: não vai dar certo".

Ainda que o início e o meio sejam pessimistas, os versos finais admitem a perseverança ("Ou insista") e, com ela, um fiapo de esperança, afinal o desejo é "uma porta aberta" e portas abertas, em geral, são boas, são convites, representam oportunidades. Ao contrário da negação implícita nas portas fechadas.

Antes de continuar, uma coisa. A ideia de ler poesia é, com frequência, cercada por um campo de desafios e dificuldades. Não se lê poesia porque não se "entende" de poesia. Essa desculpa é ruim.

Entender de poesia pode ajudar a extrair mais de um poema tanto quanto entender de música pode melhorar a experiência de ouvi-la. No entanto, alguém incapaz de ler uma partitura ainda pode se emocionar com uma composição. Também um leitor que não entenda de métrica pode ser fulminado por um poema (situação deste resenhista).

Talvez seja um argumento ingênuo, mas música e poesia são bastante próximas – há poesia na primeira e musicalidade na segunda. Escreve Britto: "Todas as soluções são boas,/ menos a que você escolher./ Escolha, sim. (Mesmo que doa,/ dá uma espécie de prazer.)".

Apesar de escrever difícil quando é o caso (você sabe o que é uma sinérese?), o poder de Britto de usar palavras corriqueiras na construção de um poema extraordinário tem um pouco a ver com uma fala do dramaturgo Tom Stoppard sobre como as palavras simples, essas que todo mundo usa o tempo todo, são as mais espetaculares. Dentro de um determinado contexto, você não precisa de palavras obscuras ou complexas para gerar impacto.

Como exemplo, Stoppard disse invejar o roteiro do filme O Fugitivo (1993), em que o policial de Tommy Lee Jones persegue o médico vivido por Harrison Ford. Este é acusado de matar a mulher e, ao mesmo tempo em que foge da polícia, tenta encontrar o assassino de fato.

A inveja de Stoppard, ele mesmo explicou, está baseada numa cena lá pelo fim da história, quando Ford é encurralado pelos policiais e, diante de Jones, ele diz a única coisa que poderia dizer: "Eu não matei minha mulher!". E Jones responde: "Não faz diferença", uma frase simples que cria uma revolução na história inteira e na cabeça do público. Ford pode não ter matado a mulher, mas depois de tudo o que aconteceu – a fuga, a perseguição, os transtornos das duas –, ele vai ser preso do mesmo jeito. Que se dane.

É esse tipo de efeito que têm os poemas de Formas do Nada. Britto constrói os versos para chegar a uma frase ou palavra que deixará você sem fôlego, abismado, mas contente de encontrar em palavras, num livro de capa azul, sensações e preocupações que julgava indizíveis. Como aqueles instantes muito breves em que, ocupado com outra coisa, você tem a sensação de que o mundo faz sentido. "Ou parece. Pelo menos."

Às vezes, o poeta fala sobre as razões de escrever e estas bem poderiam ser as razões de viver. A folha em branco é uma das formas do nada e ele diz que é preciso rabiscar num caderno o que talvez jamais venha a ser lido por mais ninguém. "Por quê? Não vem ao caso."

Serviço: Formas do Nada - Paulo Henriques Britto. Companhia das Letras, 78 págs., R$ 32. Poesia.

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