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Susan Sontag (1933-2004) listava amores, leituras e músicas que conhecia ou precisava conhecer | Markus Benk/AFP
Susan Sontag (1933-2004) listava amores, leituras e músicas que conhecia ou precisava conhecer| Foto: Markus Benk/AFP

Estante

Confira os livros de Susan Sontag publicados no Brasil

1960

Morte em Questão (Expressão e Cultura, 1967), Viagem a Hanói (Expressão e Cultura, 1968)

1980

Sob o Signo de Saturno (L&PM, 1986), Contra a Interpretação (L&PM, 1987), A Vontade Radical (Companhia das Letras, 1987), Aids e Suas Metáforas (Companhia das Letras, 1989)

1990

O Benfeitor (L&PM, 1990), O Amante do Vulcão (Companhia das Letras, 1993), Assim Vivemos Agora (Companhia das Letras, 1995)

2000

Na América (Companhia das Letras, 2001), A Construção de um Ícone (Globo, 2002), Diante da Dor dos Outros (Companhia das Letras, 2003), Sobre Fotografia (Companhia das Letras, 2004), Questão de Ênfase (Companhia das Letras, 2005), Doença como Metáfora/ Aids e Suas Metáforas (Companhia de Bolso, 2007), Ao Mesmo Tempo (Companhia das Letras, 2008), Diários (1947-1963) (2009)

Fonte: Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br).

Tocada pelos textos de André Gide e Franz Kafka – dois de uma lista extensa de escritores admirados –, Susan Sontag fez de seu diário um exercício pesado em busca de autoconhecimento. Para ela, a experiência de pôr no papel ideias e sentimentos que não diria a mais ninguém é mais complexa do que se supõe. "No diário eu não apenas exprimo a mim mesma de modo mais aberto do que poderia fazer com qualquer pessoa; eu me crio", escreve, aos 24 anos. E continua: "O diário é um veículo para o meu sentido de individualidade. Ele me representa como emocional e espiritualmente independente. Portanto (infelizmente) não apenas registra minha vida real, diária, mas sim – em muitos casos – oferece uma alternativa para ela".Diários (1947-1963), publicado pela Companhia das Letras, é o primeiro de três volumes organizados por David Rieff, filho do casamento de seis anos da autora com o pesquisador Philip Rieff (1922-2006), que realizou trabalhos relevantes ligados à psicanálise. Depois da morte de Susan em 2004, aos 71 anos, David teve de decidir entre publicar ou ignorar um armário de cadernos em que a mãe escreveu ao longo de toda a vida.

No prefácio do primeiro volume, ele se mostra um pouco hesitante ao defender a publicação do livro. Susan escreveu poucos textos autobiográficos e procurava preservar sua vida privada, mas, segundo o filho, adorava diários – quanto mais íntimos melhores.

As entradas começam com Susan aos 14 anos (e não 15, como diz a contracapa do livro). Logo no início, impressionam suas observações sobre a vida e a arte, e a disposição para entender e assumir sua homossexualidade – em 1989, ela daria início a um relacionamento com a fotógrafa Annie Leibovitz, sua companheira até o fim.

"As ideias perturbam a regularidade da vida", escreveu em 1948. No mesmo ano: "E o que é ser jovem durante anos e de repente despertar para a angústia, a premência da vida?".

É longa a luta consigo mesma para começar a escrever de uma vez e aceitar a exposição que isso implica. A certa altura, ela diz que deve parar de procrastinar e colocar no papel tudo o que vier à cabeça. "Para escrever, tenho de amar o meu nome", "para escrever, é preciso permitir-se ser a pessoa que você não quer ser (entre todas as pessoas que você é)."

De tempos em tempos, Susan reafirma o que considera importante e censura seus defeitos (nunca chegar na hora, mentir, falar demais, preguiça, falta de vontade para recusar). Numa entrada específica, ameaça listar as características que detesta em alguém, mas interrompe a frase antes disso, como se estivesse decidida a entender seus problemas antes de se ocupar dos alheios.

Susan casou com o acadêmico Philip Rieff em 1951, ano em que há somente um dia registrado no diário – o do matrimônio –, em que ela afirmava saber de seu impulso de autodestrutividade. David, na condição de editor, explica que não existe nenhuma informação dos dois anos seguintes – isso, ou ele procurou preservar a memória do pai.

Quando retoma o diário, em 1953, os escritos se tornam esparsos, com intervalos grandes (7, 8, 19 meses) entre um texto e outro. É quando ela faz observações sobre amor, paixão e casamento. Este "é uma instituição destinada a embotar os sentimentos. Toda a questão do casamento se resume na repetição. O melhor que ele almeja é a criação de dependências fortes e mútuas".

Por vezes, há apenas uma frase solta – "Proximidade sem amor" – que deixa entrever o que ela estaria pensando. Sentindo-se angustiada pela rotina de muitas brigas e poucos carinhos, ela vai buscar socorro na literatura e a encontra no poeta Rainer Maria Rilke. "Rilke achava que a única maneira de manter o amor no casamento era com atos perpétuos de separação-retorno", cita, em novembro de 56. Em outro momento, usa uma frase dele como lema: "Deseje toda mudança".

Enfim, a separação acontece em 57, no dia 3 de setembro. No diário, ela anota de modo obsessivo tudo o que fez. Tudo. Comidas que comeu, caminhos que percorreu e lugares por que passou. Gestos banais, como colocar o cadeado na mala, estão ali. Talvez ela não quisesse esquecer de nenhum detalhe. O primeiro volume dos diários termina quando Susan está com 30 anos, valorizando música, Shakespeare e crianças. Lamentando a carência sexual e a intelectual, mas aberta à paixão, "a sensação sutil entusiasmada inesquecível da singularidade do outro".

Serviço: Diários (1947-1963), de Susan Sontag. Companhia das Letras, 342 págs., R$ 51.

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