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Inaugurado na semana passada, projeto Cine Omar teve de realizar sessões extras para atender à demanda de público que foi assistir ao clássico Casablanca | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Inaugurado na semana passada, projeto Cine Omar teve de realizar sessões extras para atender à demanda de público que foi assistir ao clássico Casablanca| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Cinemateca

Distribuidoras são empecilho

A atual gestão da Cinemateca de Curitiba, feita pela cineasta Solange Stecz, tem contemplado a exibição de filmes de um circuito bastante alternativo, com um apelo de público restrito, e de produções locais e de universidades – assumindo, assim, a função tradicional das cinematecas. O local, o último e atualmente único cinema localizado na rua em Curitiba – é também o espaço da cidade que exibe filmes distribuídos pela Vitrine Filmes (de São Paulo), que divulga produções como Estrada para Ytchaca, do coletivo cearense Alumbramento.

Projeção de produções locais de universidades e também curtas-metragens integram a grade da Cinemateca, o que faz com que a brecha seja pequena para filmes mais acessíveis ou mostras temáticas. O resultado é que a lotação da sala, por vezes, deixa a desejar. "Não existe janela de exibição para curtas que não seja na Cinemateca, é a nossa função", diz Solange.

A vontade de trazer filmes com mais apelo de público é grande, mas uma batalha diária é travada com distribuidoras maiores. Solange conta que, há meses, negocia a vinda do filme iraniano A Separação, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano, e também de O Garoto da Bicicleta, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne. "O valor do nosso ingresso é baixo e subsidiado, justamente para dar acesso ao público. É um discurso nada atraente para o distribuidor. Por isso, e também pela verba que temos disponível, enfrentamos essa dificuldade", explica a diretora.

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  • Guido Viaro (à dir.), neto do pintor, com Daiani Faraj, Cícero da Silva, Anderson Zabrocki e Andrey Luna Giron: equipe reduzida e criativa tem movimentado o espaço com projetos e ideias

Quem diria que, em uma noite de terça-feira abafada de janeiro, mês em que, dizem, não costuma ter "nada para fazer" em Curitiba, pessoas das mais diferentes idades e tribos disputassem fervorosamente o lugar em uma sala de cinema improvisada dentro de um museu para assistir à A Infância de Ivan, filme de Andrei Tarkovski, de 1961. Dando um exemplo mais recente, a mesma coisa aconteceu na semana passada, quando foi preciso fazer lista de espera para ver o clássico Casablanca, de 1942, em um shopping central que não tem sala de cinema.

Os dois "fenômenos" citados – no Museu Guido Viaro e no Shop­ping Omar, respectivamente – foram possíveis por meio de iniciativas particulares, sem verba pública ou mobilização de grandes equipes. Surgiram de pessoas que querem dar uma nova cara para a programação de cinema na cidade que, desde o fechamento de cinemas de rua, anda pouco heterogênea. A avalanche de cinéfilos, dizem os entrevistados pela Gazeta do Povo, pode indicar que há uma demanda reprimida que quer, sim, sair de casa para ver e debater um filme.

"Eu esperava que houvesse procura, mas superou minha expectativa mais positiva. Isso só confirma a carência que Curitiba tem no momento", diz o crítico de cinema e curador do projeto Cine Omar, Marden Machado. Após pesquisas de público do shopping, foi montada uma pequena sala com cerca de 30 lugares, tela de 90 polegadas e projeção em Blu-ray. "É uma maneira alternativa de competir com os outros shop­pings", diz o assessor de imprensa e autor da ideia Alexandre Gasparini, que conta que a exibição da trilogia De Volta Para o Futuro, no próximo dia 24, já está com lista de espera de 100 pessoas.

No Museu Guido Viaro, espaço privado dedicado ao artista, as iniciativas cinematográficas e também na área de música começaram em 2009, mantendo a vocação original do espaço, mas dando a ele um novo uso. Além do Cineclube Espoleta (ideia do cineasta Beto Carminatti), com filmes exibidos todos os sábados no fim da tarde em um espaço para cerca de 50 pessoas, o museu abriga, desde o ano passado, as séries Música no Museu Guido Viaro e Nova Música Curitibana (comandadas pelo músico Anderson Zabrocki) e as mostras temáticas de cinema (que esse ano devem ser mensais). "É tipo uma semente. Às vezes você planta e não nasce nada, às vezes espalha rapidamente", diz o diretor do museu, Guido Viaro (que é neto do pintor).

A continuidade e a boa qualidade da programação das mostras (cujos filmes, na maioria das vezes, são emprestados pelo cineasta e atual diretor do Museu da Imagem e do Som, Fernando Severo), ajudaram na formação de um público cativo no Museu Guido Viaro. "Você abre a porta de noite e já tem muita gente que chega e pergunta: o que tem hoje?", conta o diretor. Assim como os "fregueses", a equipe foi se formando por acaso. Za­­brocki conheceu o local por uma visita mediada. O pedreiro Cícero da Silva é o único responsável pelos reparos do prédio. A diretora de eventos, Daiani Faraj, chegou para fazer recepção por uns dias e "foi ficando". O atual recepcionista e que também dará aulas de filosofia no local (uma casa ao lado será inaugurada nos próximos meses, com café, sala para cursos e biblioteca), Andrey Luna Giron, foi trazido por Daiani. "É o único local do mundo onde eu passo e o recepcionista está escrevendo uma sinfonia ou passando textos para o latim", diverte-se Viaro.

Facilitadores

Localização central, entrada gratuita e debate pós-exibição são pontos fundamentais para ambos os projetos alavancarem."É um bom produto, em um ambiente adequado e de graça. Não tem como errar", diz Marden Machado, que procurou diversificar ao máximo a programação do Cine Omar. "Tive como critério escolher filmes mais antigos e que mexam com o emocional dos espectadores. São títulos que estão nas locadoras, mas que as pessoas acabam esquecendo, já que são bombardeadas com lançamentos o tempo todo."

As redes sociais, principalmente o Facebook, são ferramentas que também ajudam, diz Daiani Faraj. "No caso da mostra do cinema soviético, um foi compartilhando a notícia com o outro, o que ajudou a trazer espectadores mais jovens." Porém, a rede também pode enganar: na exibição de Limite, filme brasileiro de Mário Peixoto, mais de 90 pessoas confirmaram via Facebook, o que deixou Viaro preocupado. "Já fomos para a porta e buscar mais cadeiras. Acabou que apenas três vieram."

Uma possível conclusão para os "casos", acredita o cineasta e diretor do MIS, Fernando Severo, é que as pessoas estão interessadas em viver uma experiência cinematográfica. "Por mais que, eventualmente, as projeções te­­nham problemas, é muito diferente de ver em casa, em uma tela de televisão."

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