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Linha do tempo

Saiba mais sobre Norah Lange:

1905 – Nasce em Buenos Aires e logo a família muda-se para a província de Mendoza, para mais tarde retornar à capital argentina.

Década de 1920 – Participa de revistas vanguardistas, como Prisma, Proa e Martín Ferro.

1925 – Publica o livro de poemas La Calle de la Tarde, com prólogo assinado por Jorge Luís Borges.

1958 – Conquista o Grande Prêmio de Honra e a Medalha de Ouro da Sociedade Argentina de Escritores.

O menino e a menina que existem dentro da cada leitor e leitora podem ressurgir após a leitura de Cadernos de Infância, de Norah Lange (1905-1972). Nem é necessário saber, por exemplo, que ela foi uma das mais importantes poetas argentinas do século 20, endossada por Jorge Luís Borges. Nesta obra, Norah utiliza uma prosa incomum para recuperar episódios de seus primeiros anos que iriam abrir, e definir, as estradas de todo o seu futuro.

A infância de Norah é mirada, por ela já adulta, a partir de "janelas", que são os capítulos curtos deste livro, de no máximo três páginas cada um. Ela revela e analisa os próprios temores e idiossincrasias, que ganham primeiro plano na narrativa. Norah confessa que recortava palavras (cujo significado desconhecia) de jornais, contava as sílabas de conversas orais e adorava ficar doente (para driblar a escola).

A morte se apresentou bem cedo para ela. Quando o pai se foi, a família mudou-se da província de Mendoza para Buenos Aires. Outras mudanças viriam. O piano – que representava não apenas porta de entrada para o universo da sensibilidade, mas também era sinônimo de alguma opulência – seria vendido durante uma temporada de vacas mais do que magras. A pequena Norah já era capaz de entender que a diminuição de pratos durante as refeições sinalizava transformações no horizonte.

O medo do futuro seria um assunto mais do que constante para a menina que discutia sobre destino e livre-arbítrio, e ingeria água sem ter sede como se pressentisse que não demoraria para a bebida escassear. O ato de dormir era um salto para transpor problemas, e apenas na manhã seguinte ela iria pensar, ou enfrentar, aquilo que parecia sem solução.

Norah chegou a ter aula prática de provérbios (uma professora fez com que ela e as irmãs carregassem um piano com a finalidade de fazê-las entender que "a união faz a força"). Mas uma das lições de maior valia aconteceu durante uma conversa casual com a mãe, que lhe ensinou como uma mulher sabe se ama, ou não, um homem: "É muito fácil. Basta imaginá-lo nas situações mais grotescas. Cantando nu sobre um tapume, por exemplo. Se ele suportar essa prova e não provocar repulsa, é porque é verdadeiramente amado."

Mas o momento de maior intensidade do livro acontece quando Norah faz um elogio às noites dos sábados – intervalo quase mágico entre o fim dos dias úteis e a ainda distante ameaça da segunda-feira. "É a lembrança das noites de sábado, que vem até mim em uma grande onda de ternura e de pureza para dar-me a certeza de que minha infância não poderia ter sido mais doce."

A autora observa que "quando alguém olha fixamente alguma coisa, esta acaba por persegui-lo." De fato, olhar – mais do que isso, ler – Cadernos de Infância pode abrir as comportas do passado de todo adulto, seja para revisão ou mergulho sentimental.

Serviço

Cadernos de Infância. Norah Lange. Record. 204 págs. R$ 36.

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