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Paul McCartney sabia exatamente o que desejava quando convidou Nigel Godrich para produzir seu novo álbum, Chaos and Creation in the Back Yard. O ex-beatle, hoje aos 63 anos, precisava de alguém que, mesmo respeitando seus serviços prestados à história do rock, acreditasse que sua música ainda pudesse surpreender e conquistar novos ouvintes.

A escolha de alguém como Godrich, portanto, faz total sentido. Colaborador da banda britânica Radiohead e do norte-americano Beck, artistas reconhecidos pela inventividade e ousadia de seus trabalhos, o produtor poderia, sim, mexer – e com propriedade – em um time que quase sempre entrou em campo com a vitória garantida. E assim o fez. O novo CD de McCartney não apenas é um dos melhores de sua carreira, como tem o notável mérito de ser um mais vigorosos lançados neste ano. Nada mal para um roqueiro sexagenário.

Ao invés de trabalhar com uma banda, McCartney preferiu, possivelmente seguindo os conselhos de Godrich, fazer do disco uma obra realmente solo, toda sua. Tanto que, em quatro das 13 faixas, nenhum outro músico é creditado. E, ao longo do CD, ele toca quase todos os instrumentos.

Embora Chaos seja, sobretudo, um disco do ex-Beatle – as canções, por exemplo, são construídas em torno de sua voz–, a contribuição de Godrich é evidente. Coube ao produtor acrescentar aos arranjos texturas inusitadas, menos óbvias. Um exemplo dessa opção é a bela "Jenny Wren", primeiro single do CD. Ao mesmo tempo em que a faixa é uma balada típica do ex-beatle, a inserção de um duduk – instrumento de sopro de origem armênia – transfigura a canção, dando-lhe um tratamento mais etéreo e surpreendente aos ouvidos de quem conhece o trabalho de McCartney.

Intimista e até certo ponto experimental, porém extremamente melódico, Chaos é o tipo de disco para ser ouvido com atenção muitas e muitas vezes. Para que suas camadas sonoras, nuances e sutiliezas se revelem e possam ser fruidas como devem. Suas idéias e propostas em momento algum soam agressivas. Pelo contrário: surgem sempre de maneira discreta, para desvanecer no momento seguinte, coerentes com o espírito outonal do trabalho.

Como diz o próprio título do álbum, Chaos and Creation in the Back Yard, a solução para o caos instaurado no mundo talvez seja o recolhimento ao "quintal dos fundos", onde estão guardadas as verdades mais profundas e o essencial pode estar escondido. GGGG1/2

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