Laila Garin (Elis) e Icaro Silva (Jair Rodrigues) em cena que recria o programa televisivo O Fino da Bossa| Foto: Daniel Marenco/Folhapress

Programe-se

Elis, a Musical

Teatro Oi Casa Grande (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – Rio de Janeiro) (21) 2511-0800. Quintas e sextas-feiras, às 21 horas; sábados, às 17 e 21 horas; e domingos, às 19 horas. Ingressos variam de R$ 50 a R$ 180.

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É difícil imaginar um espetáculo com mais potencial para agradar ao público brasileiro do que um musical sobre Elis Regina. A história da cantora nascida Elis Regina Carvalho Costa, em Porto Alegre, na proletária Vila do Iapi, em 1945, talvez só corra algum risco por não ter tanto apelo junto às gerações mais novas. A não ser por isso, está tudo lá: música, carisma, romance, tragédia, História (com H maiúsculo) da MPB, do Brasil.

O musical de Patricia Andrade e Nelson Motta, que marca a estreia de Dennis Carvalho como diretor teatral, tem de sobra todos esses aspectos, e mais: a performance arrebatadora de Laila Garin e a parte musical impecável. Se há defeitos no espetáculo, eles estão na parte teatral strictu sensu, e são menores.

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A peça, com três horas de duração, começa com a jovem Elis, cantora de rádio em Porto Alegre que segue para o Rio com a cara, a coragem, o talento e o pai, o desconfiado Seu Romeu (Ricardo Vieira). A década de 1960 é a mais saborosa: personagens como Miele (Caike Luna), Ronaldo Bôscoli (Felipe Camargo), o dançarino e coreógrafo Lennie Dale (Danilo Timm, perfeito) e, mais tarde, Jair Rodrigues (Ícaro Silva) e o Beco das Garrafas transportam o público no tempo.

A parte musical, nesse momento, é especialmente brilhante: destacam-se da orquestra Heberth Souza (piano), Matias Correa (contrabaixo) e Nailson Simões (bateria), formando um trio de bossa nova-jazz da pesada, que contribui para a composição perfeita do clima.

Voz

Nas primeiras canções, como "Menino das Laranjas" e "Arrastão", fica claro que Laila não apenas absorveu o gestual da cantora como aprendeu a emular à perfeição sua voz e seu jeito intenso de cantar. Rapidamente, a Pimentinha se ambienta na nova cidade, com seu jeito nada fofo de ser, apaixonando-se pelo menos fofo ainda Bôscoli, um cafajeste do tipo que não se faz mais, interpretado com brilho por Felipe Camargo (que se dá ao luxo de cantar como um não cantor, como o original, pérolas como "Lobo Bobo").

A história anda bem, com as canções nos lugares certos, mas o fator Broadway instala alguns obstáculos no caminho: a cena ao som de "Alô, Alô, Marciano", chacoalhante, em um salão de beleza, é absolutamente despropositada, musical e dramaturgicamente – sem contar que a história ainda está na década de 1960 e a música só foi lançada em 1980. As cenas coreografadas, aliás – que não são muitas –, pouco somam ao espetáculo, que é mais denso do que alegre, como Elis.

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A década de 1970 ainda é contada com alguma preocupação histórica e cronológica – com as boas performances de Cláudio Lins como Cesar Camargo Mariano, segundo marido de Elis, e de Leo Diniz como Tom Jobim, em uma deliciosa passagem. A gravação de "O Bêbado e a Equilibrista" e as pazes de Elis com Henfil (bem interpretado por Peter Boos, e que a havia retratado como uma morta-viva após sua participação nas Olimpíadas do Exército, em plena ditadura) proporcionam um dos momentos mais emocionantes do espetáculo.

Mais para o fim da vida da cantora, a história deixa de ser contada com precisão, numa possível opção do espetáculo – que não menciona a morte de Elis, em 1982, aos 36 anos. Elis, a Musical é um espetáculo completo e emocionante, que figura muito bem na tradição recente dos musicais sobre grandes figuras da música brasileira.