Leonardo DiCaprio é dirigido por Clint Eastwood em J. Edgar, que contará a história do lendário chefe do FBI| Foto: Divulgação
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À medida que o tempo começa a esfriar no Hemisfério Norte, esquenta a temporada de filmes tidos como sérios, que ambicionam o reconhecimento da crítica, e uma vaga entre os candidatos ao Oscar. Neste ano, basta uma olhada na lista dos títulos para perceber que muitos deles são cinebiografias de personagens importantes, o que quase sempre é um chamariz de público, mas com frequência também um risco, por conta das inevitáveis comparações entre a suposta verdade dos fatos e a forma como esses acontecimentos são reconstituídos (ou omitidos).

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Em breve, provavelmente nos primeiros meses de 2012 no Brasil, estarão em uma sala de exibição perto de você longas-metragens que contam a vida, ou episódios das biografias, de vultos tão díspares quanto J. Edgar Hoover, patrono do Federal Bureau of Investigation (FBI), a polícia federal norte-americana; a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher, que comandou com mão de ferro a Grã-Bretanha de 1979 a 1990; a estrela de cinema Marilyn Monroe, um dos maiores ícones de Hollywood de todos os tempos; e até os psiquiatras Sigmund Freud e Carl Gustav Jung, fundadores da psicanálise.

A escolha do período para a estreia desses filmes não é aleatória. A possibilidade de eles figurarem nas listas de melhores do ano, algo que alavanca as chances das produções na corrida para o Oscar, é consideravelmente maior quando os longas estão frescos na memória de quem interessa: a imprensa especializada e os integrantes da Academia. E, no caso de cinebiografias, é sempre grande a expectativa de público e crítica em relação às performances dos atores.

Astro

Dentre essas produções nenhuma representa tanta importância para seu astro principal quanto J. Edgar. Leonardo DiCaprio foi indicado ao Oscar três vezes: a melhor ator coadjuvante por Gilbert Grape – O Aprendiz de Sonhador (1993), e a melhor ator por O Aviador (2004) e Diamante de Sangue (2006). Nunca ganhou. Mas, desta vez, pode ser diferente. Pelo menos é o que dizem sites e blogs especializados, como o awardscircuit.com, que o coloca no topo da lista de favoritos. Sobretudo por causa da complexidade do personagem que ele interpreta no filme de Clint Eastwood.

Conservador, anticomunista, homossexual não assumido, manipulador, meticuloso, político e até mesmo truculento, quando a situação exigia essa postura, J. Edgar Hoover (1895-1972) é um anti-herói americano. Foi o chefe do FBI por 48 anos, serviu oito presidentes dos Estados Unidos e só deixou o cargo quando morreu. Ainda assim, ocupa um lugar ambíguo na história do país. Não é lembrado com nostalgia.

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Embora J. Edgar tenha lançamento previsto apenas para 9 de novembro nos Estados Unidos e não tenha sido exibido sequer uma vez, o filme já está recebendo críticas da militância gay por não dar a devida atenção à controversa relação do protagonista com Clyde Tolson (Armie Hammer, de A Rede Social), seu protegido e diretor associado do FBI. Para muitos biógrafos, os dois teriam sido amantes durante décadas e até gostavam de se vestir como mulheres. Mas rumores dão conta de que o filme, apesar de sugerir que o relacionamento entre eles foi bem além de um vínculo meramente profissional ou de amizade, teria feito a opção de enfocar mais a dimensão pública e política de Hoover do que sua vida íntima. A ver.

Polêmica

Não deve ser muito diferente o tratamento dado a Margaret Thatcher em A Dama de Ferro. A diretora do filme, a inglesa Phyllida Lloyd, depois do estrondo internacional de Mamma Mia!, resolveu não mexer em time vencedor: convidou a estrela de seu musical, Meryl Streep, para viver o papel da também polêmica primeira-ministra britânica.

O filme, que será lançado em 16 de dezembro nos Estados Unidos, é narrado em flashbacks, dando especial atenção a alguns episódios da trajetória de Thatcher, como os dias que antecederam a Guerra das Malvinas, em 1982.

Uma primeira versão do filme apresentada à família da ex-primeira-ministra parece ter desagradado os seus filhos, que o teriam considerado "uma fantasia esquedista". Já setores mais liberais na Grã-Bretanha, como o jornal The Guardian, estariam preocupados com o fato de o filme deixar um pouco de lado a forma pouco hábil que Thatcher demonstrou tanto no conflito nas Malvinas como em relação aos movimentos sindicais, para enaltecer o triunfo da personagem numa ordem social majoritarimente masculina e resistente à sua figura.

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Por último, alguns espectadores, que tiveram acesso a uma versão inacabada do longa, teriam ficado um pouco chocados com a forma com que o filme retrata a atual decadência física e mental de Margaret Thatcher, que sofre da doença de Alzheimer.