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Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Persépolis, a animação de Marjane Satrapi, encerrou ontem a 45.ª edição do Festival de Nova Iorque, um evento conhecido por sua característica não-competitiva e sem premiações.

O desenho, que faz um contraponto entre um Irã opressor e uma Europa liberal, é a adaptação para as telas da HQ homônima de Satrapi com o também cartunista e companheiro, Vincent Paronnaud.

A diretora, uma franco-iraniana hoje com 37 anos, era apenas uma criança quando a Revolução Islâmica derrubou o xá do Irã, em 1979. Bisneta do antigo rei da Pérsia, ela cresceu em uma família moderna e ocidentalizada e estudou numa escola francesa.

Com a chegada dos fundamentalistas religiosos ao poder, ela se confrontou com uma série de mudanças profundas em sua vida, assim como na de todos os habitantes de seu país.

A história segue a espirituosa jovem Marjane (voz de Gabrielle Lopes), filha única criada com amor e encorajada a ser independente pelos pais, os educados intelectuais Ebi (Simon Abkarian) e Tadji (Catherine Deneuve).

Contado na primeira pessoa, o filme mostra um lirismo ousado, expressando, ao mesmo tempo, a aparente contradição entre uma grande alegria e uma imensa tristeza.

Embora narre o trauma que foi a implantação do regime xiita no Irã, não faltam à trama humor e sarcasmo para narrar os acontecimentos políticos de um ponto de vista único, que desfaz os lugares-comuns sobre o país e conta sua história antiga e a recente.

O Caderno G participou da coletiva com Satrapi, logo após a sessão prévia do filme para a imprensa. Leia os principais trechos.

Você resolveu adaptar a sua HQ para as telas porque achou que essa história ainda não tinha terminado?Quando a novela gráfica foi publicada pela primeira vez, foi um sucesso imediato e eu recebi diversas ofertas para levar Persépolis às telas. Sinceramente, eu esperei por quatro anos, porque achava que o trabalho estava terminado. Mas, quando comecei a falar com Vincente (Parannaud) sobre o projeto do filme, me dei conta que nunca havia trabalhado com ele, e também que realizar o filme seria uma experiência completamente nova. Às vezes, são esses pequenos detalhes que determinam as decisões.

Foi difícil adaptar uma obra que você mesma escreveu?Não, pelo contrário, foi muito prazeroso, embora tenha sido necessário fazer alguns ajustes. Nas histórias em quadrinhos, há uma interação grande e imediata entre o escritor e o leitor. No caso do filme é diferente, já que os espectadores são mais passivos. Assim, é preciso muito movimento, sons, música, enfim, uma narrativa própria. Por outro lado, já ouvi muitos comentários que Persépolis traduz perfeitamente o meu desenho, mas a literatura e a música também têm uma grande influência no meu trabalho, tanto quanto as próprias HQs.

Persépolis tem o olhar da sua diretora?Prefiro dizer que o filme tem um olhar humano. Mas todos sabem que a animação é a versão de uma história que eu vivi. Quando eu escrevi o livro, tive que resgatar 16 anos da minha vida, incluindo coisas que eu definitivamente queria esquecer. É claro, também, que essa exposição quase determina com que eu fique aberta para eventuais contestações e críticas ao filme.

Qual foi o momento mais memorável da experiência?A primeira exibição para toda a equipe num cinema do Champs-Elysées, em Paris. No final, eu estava chorando, bem como todos eles. Eu fiquei muito satisfeita com o resultado, principalmente porque o filme não faz julgamentos – ele não diz isto é certo ou errado. Na verdade, é uma história sobre o amor por minha família.

Você tem alguma influência forte de autores da HQs?Entre minhas preferências ligadas aos quadrinhos, a mais forte é o trabalho de Art Spiegelman, com seus gatos antropomórficos ou a história do Holocausto em Maus. Mas, de modo geral, amo as HQs".

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