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Até o Descobrimento, Portugal era pobre sob e sobre a terra. A população de um milhão de habitantes vivia às voltas com devastadoras epidemias de peste. A esperança de dias melhores vinha do sonho de encontrar tesouros além-mar. Por isso, foi o primeiro país a se aventurar nas águas desconhecidas do Atlântico, em 1.415, pondo 200 naus rumo ao norte da África. Os primeiros saques, extorsões e negócios rendiam 700 quilos de ouro por ano. Os portugueses nem sonhavam com o Brasil. Havia ainda um oceano entre eles e o paraíso.

As moedas de ouro eram as reservas mais usadas na Europa, África e Ásia. Era preciso reabastecer o mercado europeu, já que o outro escoava cada vez mais para o Oriente em troca de especiarias. "Movido a cobiça, o mundo precisava desesperadamente de ouro", observa Lucas Figueiredo. Foi numa dessas buscas que Pedro Álvares Cabral acabou dando nas costas brasileiras. Portugueses e espanhóis iniciaram então uma disputa que redesenharia a política econômica mundial.

Entre 1503 e 1520, a Espanha faturou alto na América espanhola; a colônia portuguesa dava prejuízo. Daqui só saía o pau-brasil, menos de 5% das receitas de Portugal. Havia ainda os saques dos corsários franceses e ingleses na extensa costa brasileira. Assim, para povoar essas terras e alimentar o sonho do ouro fácil, o reino português mandou para cá presos, condenados, ladrões, órfãos. A ralé, em síntese.

Os azares de Portugal se davam na mesma medida da sorte da Espanha. Depois de Hernán Cortés dominar os ricos astecas, foi a vez de Francisco Pizarro conquistar o fabuloso Império Inca, em 1531, e toda a vastidão de ouro de que os nativos dispunham. Figueiredo lembra que foi o ouro tirado do Império Inca, do México e das Antilhas que irrigou a Europa e fortaleceu o recém-nascido sistema mercantilista, em substituição à economia feudal.

Do lado de cá, a primeira expedição mandada ao interior do Brasil foi dizimada por índios carijós na foz do Rio Iguaçu. Portugal só não abandonou o projeto Brasil devido ao sucesso espanhol. Se em terras vizinhas havia ouro, aqui também haveria de ter. Em 1545, a Espanha encontrou a maior mina de prata já descoberta, dando ao país mais riquezas do que havia conseguido até então com o ouro.

O achado espanhol fez crescer a lenda de uma montanha de ouro no interior do Brasil, entre a Bahia e o Rio de Janeiro. Sabarabuçu era o nome dela (hoje, cidade de Sabará, que não é montanha e fica a 23 km de Belo Horizonte). O primeiro vestígio de ouro em terras brasileiras só foi encontrado em 1562, em São Paulo, mas era tão pouco que quase não foi digno de registro.

Sob dominação espanhola de 1580 a 1640, os portugueses acabaram se endividando com a Holanda para conseguir voltar ao poder e sustentar a guerra com a Espanha, que queria retomar o controle de toda a Península Ibérica. A necessidade do ouro tornara-se maior. Até então, o açúcar e o pau-brasil eram as riquezas que Portugal retirava daqui.

Mesmo no início minguado, a caça ao ouro não foi serviço em vão: caminhos foram abertos, povoados surgiram do nada, a agricultura e a agropecuária surgiram no inóspito sertão. Mesmo antes de encontrado, o ouro foi o alicerce para o desenvolvimento do sertão brasileiro. Quando o metal acabou, já havia outra economia.

O primeiro grama de ouro em Minas Gerais só seria achado em 1693. As buscas de quase dois séculos tinham chegado ao fim. Portugal investiu por 200 anos no Brasil até começar a por a mão no ouro. Valeu a pena. Durante um século e meio aquelas foram as maiores reservas de ouro e diamante conhecidas no mundo.

Em 1697 foi encontrado o primeiro grande veio em Minas e iniciou-se a corrida do ouro. O grande êxodo de Portugal para o Brasil levou o rei a proibir a imigração. Em 60 anos teriam vindo 600 mil portugueses da região do Minho. O apelo do ouro foi tão grande que até padres largaram a batina para virar mineiros.

Todos os caminhos levavam ao sertão. Uma gente afoita descia do Nordeste, vindos de Recife e Salvador, avançava do Leste, por São Paulo e Rio de Janeiro, subia pelo Sul, saindo ou passando pelo Paraná. "Foi dessa forma desordenada e no meio do sertão bruto que pela primeira vez o Brasil se encontrou", diz Figueiredo. "O encontro só fazia aumentar o número de mortos; os cadáveres enchiam os caminhos."

Em 1755, o mais devastador terremoto seguido de tsunami de que se teve notícia na Europa devastou Lisboa e levou muitas das obras opulentas feitas com o ouro do Brasil. Morreram 15 mil pessoas, 6% da população da capital. Foi o ouro da colônia que ajudou a reerguê-la. Das quase mil toneladas de ouro extraídas do Brasil, mais de 800 toneladas foram diluídas por vários países europeus, sobretudo Inglaterra e França. Pouco ficou em Portugal, devido ao esbanjamento e aos maus negócios dos reis.

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