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Guilhermina Guinle no papel da socialite Alice, em "Paraíso Tropical" | Reprodução www.globo.com/paraisotropical
Guilhermina Guinle no papel da socialite Alice, em "Paraíso Tropical"| Foto: Reprodução www.globo.com/paraisotropical

"Quando discordo do empresário, eu brigo com o irmão. E quando brigo com o irmão, o empresário discorda de mim." Assim Nasi, vocalista e fundador do Ira!, explica a história que tem ocupado lugar de destaque nos veículos de comunicação desde setembro, quando acusou o irmão e empresário Airton Valadão Rodolfo Jr de ameaçá-lo com uma faca caso mantivesse seus planos de tirar férias da banda.

Em entrevista exclusiva ao G1 nesta quinta-feira (8), logo após a primeira audiência de um processo de interdição movido pelo pai do músico que corre em segredo de Justiça, Nasi deu a sua versão sobre o que chamou de uma "tentativa esdrúxula de dizer que não tenho condições de cuidar da minha vida".

G1- Como foi a audiência?Nasi - Partiu de mim o pedido de segredo de Justiça. Por isso, não posso me manifestar sobre o processo. Só posso dizer que lamento e declaro que essa ação é orquestrada pelo meu ex-empresário e irmão Airton Valadão Rodolfo Jr.

G1 - Vocês voltaram a conversar?Nasi - Só conversamos por meio de advogados. Aliás, não tive comunicação sequer com nenhum dos três membros da banda que eu formei há 26 anos. Eles não me procuraram em nenhum instante. Só através de processos. Sobre esses eu posso falar. Lamentavelmente, eu montei uma banda de rock, e eles estão me tratando como se eu fosse um sócio de uma empresa ou um empregado que pudesse ser despedido. Então eu lembro a eles que o rock deveria ensinar para a juventude a liberdade e a lealdade, e o rompimento com o que há de sujo no mundo capitalista. Como o senhor Edgard Scandurra e o senhor André Jung – eu deixo de lado o senhor Ricardo Gaspa, que eu acho que está sendo vítima de um tsunami de imbecilidades – de maneira tola, já disseram, eu repito: a verdade e a justiça prevalecerão.

G1 - Você queria mesmo sair da banda?Nasi - Não é problema do Ira! ter diferenças, desgastes, rusgas, vontades não consensuais. Desde o ‘Acústico’, o Edgard diz que é o último disco, a última turnê. É que esse tipo de coisa fica internamente na banda, e eu não tenho motivo para não revelar isso aqui porque eu não faço parte de partido político. Há muito tempo ele manifesta essa intenção que começou a cansar, não só a mim, mas a outros também. Na época do ‘Acústico’, eu mesmo propus, acho que de uma maneira sensata, pararmos durante um ano para que pudéssemos ter um distanciamento sadio, reavaliar as coisas. Todas as bandas que ainda estão vivas fizeram isso. Titãs, Kid Abelha, Los Hermanos – esses últimos até de uma maneira muito bacana, por tempo indeterminado, era assim que eu gostaria de ter feito, inclusive. Isso ficou assim, apalavrado. Após o ‘Acústico’, o empresário Júnior veio falar que nós não éramos mais obrigados a lançar discos. Como eu gosto de gravar discos, até fingi que aceitei essa obrigação – eu nunca ouvi falar que artista era obrigado a lançar disco. É até engraçado, Frank Zappa faria uma bela tirada em cima disso. Entre muitos problemas de desencontros, de desgaste de relacionamento e de visões artísticas não afinadas, fizemos o álbum ‘Invisível DJ’, que eu considero um bom disco. Aliás, está à disposição de todo mundo no DVD a opinião do produtor Rick Bonadio sobre o meu comportamento artístico e profissional na gravação, que é de dar orgulho na mamãe.

Posto isso, ficou apalavrado que ao final da turnê a gente ia parar durante um ano. Eu tenho muitos defeitos, mas ser mentiroso eu não sou. Eu tenho projetos, vou fazer 46 anos e nunca fui para a Europa, e gostaria de ir sem passagem de volta. Afinal de contas, eu sou cantor de rock, não sou funcionário público, com todo respeito à classe. Eu tinha colocado firmemente o propósito de levar a cabo o nosso trato, digamos assim, de fazer de 2008 um ano de parada do Ira!.

G1- E os outros integrantes tinham concordado com isso?Nasi - Eu comprei a idéia do Edgard e depois ele se arrependeu - essa é a minha opinião. Por que não podem parar um ano? Eu particularmente fiz minhas pequenas reservas e acho que não é nada demais um ano sem cantar ‘Envelheço na cidade’. E começou a haver um desentendimento muito grande consecutivo com o meu irmão e empresário. Aliás, essa relação sempre foi muito difícil.

G1 - Sempre foi difícil?Nasi - Às vezes era boa quando a gente concordava no assunto. Mas quando discordo do empresário, eu brigo com o irmão. E quando brigo com o irmão, o empresário discorda de mim. Sempre foi uma situação difícil pra mim. Tem muita desvantagem, porque sempre cria um ar de pseudofavorecimento e às vezes até há um endurecimento justamente para parecer que não está favorecendo.

Enfim, percebi que se estava criando um clima para quebrar o acordo de parar em 2008. A situação com o empresário Júnior piorou. Ao ponto que eu pedi a ele que me mostrasse contratos de shows. E quando está tudo em ordem você não tem de ter medo de prestar contas, não é? Sempre há uma carga passional na discussão. Ele invadiu a minha casa e provocou uma briga.

G1 - Você foi ameaçado com uma faca?Nasi - Ele invadiu meu condomínio para tirar satisfações sobre o fato de ter de mostrar o contrato etc. e tal. Acontece que naquele dia tinha show do Ira! e eu comuniquei à banda que eu não tinha condições de fazer o show. Eu não posso cantar com uma faca no pescoço. Eu não briguei com o meu irmão, eu briguei com o empresário, entende a dualidade?

A banda não só tocou como o Edgard Scandurra declarou no palco - e vou pedir esclarecimentos na Justiça - que eu estava hospitalizado. Ele falou assim: 'Nasi passou mal e está hospitalizado. Mas nós estamos aqui para comemorar com vocês os 25 anos da banda'. Depois disso a minha vida virou um inferno, porque eles começaram a dar declarações de que eu tinha abandonado o emprego. Eu até brinco, vou pedir 26 anos de fundo de garantia. Eles chegaram a fazer três shows sem a minha presença.

G1 - Sem você ser comunicado?Nasi - Sem ser comunicado, sem me perguntar se eu estava bem, sem ver a minha versão dos fatos, sem sequer tomar conhecimento de alguma testemunha que tenha presenciado os fatos. As coisas ficaram nesse clima. Procurei tocar a minha vida e deixei que os advogados vissem as ações na área criminal e na área cível. Até que fui comunicado dessa tentativa esdrúxula de dizer que não tenho condições de cuidar da minha vida, até usando um passado que eu considero vitorioso meu em relação ao vício em drogas.

Eu já estava sentindo um clima de calúnia na internet, me antecipei a todo mundo e fiz um exame toxicológico que deu negativo para todas as substâncias. Aliás, estou disposto a fazer esse exame semanalmente. É um teste simples, uma coleta de urina assistida e o resultado sai em 24 horas. Imagina se o empresário do Ozzy Osbourne faz isso com ele? Imagina se o empresário do Iggy Pop faz isso com ele? Sinceramente, eu, perto deles, estou mais para o Padre Marcelo.

Ninguém mais do que eu lamenta a forma como as coisas aconteceram. Porque tudo o que eu pedi era um ano de paralisação de atividades para que o Ira! sobrevivesse lá na frente. Pode ter certeza que essa era a melhor e a única coisa que poderíamos fazer. Houve uma sucessão de erros, de atitudes e de ações criminais e judiciais do empresário Júnior e de dois membros da banda, no caso o baterista André e o guitarrista Edgard, que tornaram a coisa um imbróglio escandaloso que vai tomar proporções de fenômeno de mídia.

G1 - Quais são seus planos agora?Nasi - Continuo minha carreira, em dezembro tenho muitos shows. Ainda não são autorais, mas posso dizer de brincadeira que são simplesmente para me divertir um pouco e pagar meus advogados. Vou tirar minhas férias merecidas, vou viajar, pegar uma praia. Participei de um longa muito legal chamado "Sem fio". É um filme que vai ter um impacto muito grande e foi muito bom pra mim porque foi um catalisador.

Meu personagem conseguiu catalisar toda essa balbúrdia e violência contra a minha pessoa. Meu principal plano pro futuro próximo é ser feliz e me olhar no espelho toda manhã quando for escovar os dentes. Naturalmente as coisas vão vir. A música é minha vida, mas não é meu emprego. Sempre tentei passar isso pra juventude e quero continuar passando. A música tem de ser algo que você faz com o coração e não com o bolso.

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