Prosa, poesia e rock-and-roll

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Para um leitor mal-humorado, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) está a cada ano mais "festa" e menos "literária". O comentário é maldoso, sem dúvida. Mas, se, na edição passada, o bafafá se concentrou na artista plástica Sophie Calle e no ex-namorado dela, o escritor Gregoire Bouillier, nesta, é grande a possibilidade de um senhor quase septuagenário de cabelos encaracolados se tornar o centro das atenções.

No quesito celebridade, sem dúvida, Lou Reed, de 68 anos, é o principal nome da Flip até o mo­­mento. A organização do evento, que ocorre de 4 a 8 de agosto, já divulgou lista com 26 autores confirmados – outros mais devem ser surgir até julho. O cantor e compositor, ex-integrante do Velvet Underground, terá um livro com 310 letras de canções publicado pela Companhia das Letras.

A tradução foi feita a quatro mãos pelos professores Caetano Waldrigues Galindo (Universidade Federal do Paraná) e Christian Schwartz (Universidade Positivo), ambos curitibanos. Se a edição brasileira respeitar a original, efeitos gráficos simularão borrões de água sobre a impressão, tornando parte das letras turva.

Além de ser protagonista na história do rock-and-roll pelas proezas dos anos 1960, Lou Reed gravou um álbum inspirado nos textos de Edgar Allan Poe (1809-1849), depois de ter escrito uma peça a partir dos mesmos. Reed parece ser capaz de circular por várias áreas. No cinema, fez uma ponta impagável no filme Sem Fôlego (1995), de Paul Auster e Wayne Wang. Em 2007, o artista plástico e cineasta Julian Schnabel (O Escafandro e a Borboleta) realizou Berlin a partir de uma apresentação do músico, que tocou o repertório do disco homônimo lançado em 1973.

Americano

Dos autores já confirmados pela organização da Flip, há 17 estrangeiros e 9 brasileiros. Fazem parte do primeiro grupo a best seller Isabel Allende (A Casa dos Espíritos) e Colum McCann, vencedor do mais recente prêmio Pulitzer pelo romance Deixe o Grande Mundo Girar, a sair pela Record.

William Kennedy deve satisfazer os ranzinzas que torcerem o nariz para Lou Reed. O norte-americano é o criador de uma sé­­rie de livros impressionante pelo escopo, formada por sete ro­­man­­ces que cobrem cinco décadas de história e são ambientados na cidade de Albany, capital do estado de Nova York. Os dois primeiros já saíram no Brasil pela Cosac Naify: O Grande Jogo de Billy Phelan e Ironweed, este é conhecido pela adaptação que teve para o cinema, com Jack Ni­­cholson e Meryl Streep, sob a dire­­ção de Hector Babenco.

Teoria

Importante no meio acadêmico, o crítico Terry Eagleton escreveu livros indesviáveis – como Teoria da Literatura: uma Introdução e, mais recentemente, Depois da Teoria (Civilização Brasileira). Ele dá peso acadêmico ao evento.

Uma figura que deve arrastar fãs até Paraty é o quadrinista Ro­­bert Crumb, um dos poucos que fazem jus ao adjetivo "lendário". Criador do Gato Fritz e de Mr. Natural, ele acaba de lançar uma versão em quadrinhos para o livro Gênesis, da Bíblia. A versão brasileira saiu pela Conrad.

Salman Rushdie, no ano passado, ganhou o Man Booker Prize (prestigioso prêmio literário do Reino Unido) numa edição especial, que escolheu o principal romance em toda a sua história. O vencedor foi Os Filhos da Meia-noite (Companhia das Letras). Rushdie já havia participado da Flip na segunda edição, em 2005, quando chegou a dançar forró numa das festas de encerramento.

Confira quadro nesta página com os autores que participam da Flip 2010. Ela costuma ocorrer em julho, mas, com a Copa do Mundo, foi programada para o mês seguinte. O mesmo aconteceu em 2006.

Serviço

Na internet: www.flip.org.br (os ingressos começam a ser vendidos no dia 5 de julho).