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Na época em que Matt Eich entrou no curso de fotojornalismo, em 2004, revistas e jornais impressos já estavam com circulação em declínio. Mas ele tirava fotos desde criança e, mesmo após casar e ter um filho durante a faculdade, ele persistiu na carreira de fotografia. "Eu tinha que ganhar dinheiro suficiente para manter um teto sobre nossas cabeças", conta.

Desde a formatura em novembro de 2008, Eich, 23 anos, tem recebido trabalhos aqui e ali, mas "na indústria em geral, a sensação agora, pelo menos entre meus pares, é que o setor não é sustentável", diz. O fotógrafo complementa a renda com projetos de arte e publicidade. "Tinha um caminho, mas ele não existe mais."

Há também o caso de Sharon Pruitt, 40 anos, mãe de seis filhos, que vive na base aérea de Hill Air, no estado norte-americano de Utah. O marido de Sharon trabalha no serviço militar, e suas constantes mudanças significavam que um emprego em período integral não seria viável. Após umas férias no Havaí em 2006, ela publicou algumas fotos – tiradas com uma câmera digital Kodak de US$ 99 – no Flickr.

Desde então, Sharon estabeleceu um contrato com a Getty Images, gigante do segmento de banco de imagens, que lhe fornece uma renda mensal, à medida que editores e publicitários pagam pela licença de uso das suas fotos. Os cheques são o suficiente para levar a família para jantar, às vezes quase servem para pagar uma parcela da hipoteca. "No momento, é ótimo ter um dinheiro extra", diz ela.

Eich e Sharon ilustram o enorme abalo sentido pelo ramo da fotografia durante a última década. Amadores, contentes em receber pequenos quantias por cliques de crianças e paisagens, têm aumentado suas oportunidades de fazer dinheiro com fotos, mas estão diminuindo o valor pago a fotógrafos profissionais e deixando-os com opções de carreira limitadas. Os profissionais também sofrem porque revistas e jornais estão cortando gastos. "Há pouquíssimos fotógrafos profissionais que no momento não estejam sofrendo", disse Holly Stuart Hughes, editora da revista Photo District News.

Três forças coincidiram para isso: o declínio da publicidade, a popularidade e acessibilidade da fotografia digital e as mudanças no mercado de bancos de imagens.

No passado, as publicações ignoravam ou menosprezavam a fotografia pronta dos bancos, que consistem de imagens pré-existentes em vez de trabalhos originais. Hoje, os orçamentos editoriais reduzidos fizeram com que elas tivessem de reconsiderar a questão. Ao mesmo tempo, a internet facilitou ainda mais a busca e o licenciamento de fotografias. Isso agora pode ser feito em segundos com alguns cliques, em vez de sete semanas de envios de transparências pelo correio.

Ao mesmo tempo, a fotografia digital segue em disparada. "Antigamente você precisava saber realmente como utilizar uma câmera", explica Keith Marloew, fotógrafo que já trabalhou para as revistas Spin e Rolling Stone. "Se estragasse um rolo, você perdia as fotos de um show inteiro, por exemplo." Agora, porém, qualquer fotógrafo pode ver instantaneamente se uma foto ficou boa, ou se a luz precisa ser ajustada.

Isso significa uma enxurrada de fotografias razoáveis, e muda a indústria. "A qualidade das imagens já prontas compradas é virtualmente indistinguível da qualidade daquelas comissionadas", afirma Jonathan Klein, executivo-chefe da Getty Images, que ajudou a fundar a agência em 1995. "No entanto, o preço que é cobrado dos clientes é uma fração do que eles pagariam por uma imagem profissional".

Os amadores, na maior parte, estão felizes por receberem qualquer coisa pelas suas fotos. "As pessoas que não precisam ganhar a vida com fotografia e a praticam por hobby não sentem a necessidade de cobrar um preço razoável", segundo o fotógrafo Matt Eich. É difícil viver só de divulgação. E muitos profissionais se preocupam com o impacto do gradual desaparecimento da atuação profissional mais requintada.

"Um fotojornalista sabe contar uma história. Eles sabem que não estão lá para influenciar, interpretar ou enviesar", salienta Katrin Eismann, coordenadora do mestrado em Fotografia Digital da Faculdade de Artes Visuais de Nova York.

"Um fotógrafo pode ir a um comício, ou a uma manifestação, e fazer com que 10 ou 1 mil pessoas apareçam em suas imagens, e isso faz toda a diferença", conclui Katrin. "Não confiaria num amador para compreender o quanto a comunicação visual é importante."

Tradução: Adriano Scandolara.

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