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Dia 16 de julho, Guilmar Silva, coordenadora de Artes Visuais da Fundação Cultural de Curitiba, viaja para Buenos Aires com a missão de selecionar as peças que farão parte da exposição dedicada ao desenhista Quino, com estréia marcada para o dia 19 de outubro no Solar do Barão. O que vem ao Paraná deve ser uma versão da Quino 50 Años, que viajou o mundo celebrando o meio século de carreira do artista argentino.

Desde sempre, Quino – e só ele – recusa-se a tratar seus desenhos como "arte". Quem quiser convencê-lo do contrário, não perde por esperar. Aos 73 anos, o criador da Mafalda vem a Curitiba para participar de um debate e da abertura da exposição. Deve ficar na cidade por sete dias, no que pode ser considerado uma visita histórica. "Ele está animadíssimo", diz Guilmar, responsável pela curadoria da mostra ao lado de Estela Sandrini. Amigas e artistas plásticas, elas conversaram pela primeira vez sobre a possibilidade de trazer Quino em 2004, quando uma série de eventos – de mostra itinerante à inauguração de praça – celebrava sua vida e sua obra.

Estela é amiga do desenhista há décadas. Ela e o marido viveram na Argentina durante algum tempo e conheceram Joaquín Salvador Lavado sem saber de sua faceta artística. Hoje, continuam bastante próximos – o projeto ganhou fôlego graças a esse vínculo. "Com a Estela, ele se sente à vontade", afirma Guilmar, que assumiu a coordenação de Artes Plásticas da FCC em meados de 2004, quando o orçamento para 2005 já estava concluído. Quino teve de esperar.

No fim do ano passado, programou a vinda do argentino para Curitiba dentro de um Festival do Gibi, evento pensado para "levantar" e dar mais visibilidade à Gibiteca. O orçamento estourou e a idéia do festival teve de ser adiada – talvez no ano que vem, quando a Gibiteca completa 25 anos, ela seja retomada. Desse primeiro plano, Guilmar seguiu com Quino (que confirmou a vinda em fevereiro) e com Solda (o trabalho do paulista radicado no Paraná ganha exposição paralela no Solar).

No embalo das exposições e do debate – no qual os desenhistas discutirão questões ligadas à ética –, atores da Companhia Silenciosa de Teatro encenam situações inspiradas no trabalho de Quino. De Buenos Aires, devem vir cerca de cem peças, entre cartuns, tiras, documentos, livros e vídeo. O material vai ocupar oito salas do Solar do Barão. A maioria dos desenhos corresponde a fotocópias de alta qualidade. Guilmar mandou confeccionar vitrines especiais (mais seguras) e espera convencer Quino a ceder também peças originais. "Ele já foi muito roubado e não costuma liberar os desenhos."

Na opinião da curadora, o conceito das tiras está ligado ao da multiplicação – graças ao vínculo que têm com o meio impresso. Dessa forma, trazer reproduções dos trabalhos não os torna menos significativos. "O que importa é a informação", diz. Guilmar viveu nos anos 70 o ápice da fama de Mafalda, a garota demasiadamente humana de Quino. Nessa mesma época, decidiu "matá-la" e nunca mais fez outra tira sobre ela.

Criada em 1963 como parte de uma campanha publicitária para a marca Mansfield, fabricante de eletrodomésticos, Mafalda não vingou como garota-propaganda, mas o desenhista não desistiu dos personagens e, a partir do ano seguinte, passou a publicá-los nas revistas Leoplán e Primera Plana. Em mais de 40 anos, Quino, se não virou unanimidade, hoje está além do bom e do ruim. É possível não gostar do seu trabalho, mas não dá para negar sua importância.

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