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Roteiro do filme é inspirado no livro Mad Love in New York City, de Arielle Holmes, que também protagoniza o longa | Divulgação
Roteiro do filme é inspirado no livro Mad Love in New York City, de Arielle Holmes, que também protagoniza o longa| Foto: Divulgação
  • Os irmãos Safdie

Heaven Knows What, de Ben e Joshua Safdie, impactou a plateia que esteve na concorrida sessão prévia para a imprensa, na semana passada, da 52.ª edição do Festival de Nova York, que começa no próximo dia 26.

O filme desconcerta os espectadores, que acompanham situações do cotidiano dos personagens – compra e venda de drogas, brigas ou sexo em plena rua, tentativas de suicídio – que escapam à sua compreensão por estarem bem distantes de suas vidas.

O conciso e pertinente roteiro, escrito pelos irmãos Safdie e Ronald Bronstein, é inspirado no livro Mad Love in New York City, de Arielle Holmes, que também protagoniza o filme.

A trama segue Ilya (Caleb Landry Jones) e Harley (Holmes), dois jovens viciados em drogas e sua luta pela sobrevivência numa imensa e sofisticada Nova York que os ignora. Tendo como cenário as belas edificações nova-iorquinas, a universalidade do tema, no entanto, lembra que a história poderia se passar em qualquer parte do mundo. Em muitos momentos, chega a lembrar fortemente os grupos de usuários de crack que moram em ruas do Brasil.

O filme é competente ao recriar uma realidade cruel da forma mais visível possível: a maioria dos planos foi feita com câmera na mão, sem cortes demasiados, filmados diretamente na rua. E os diálogos são tão eloquentes, que parecem improvisados. O filme segue mostrando os jovens vivendo em seu próprio mundo, só despertados quando alguém, em contadas ocasiões, os dirige a palavra. Ou, em sussurros murmurados por eles para pedir um troco, ou oferecer para compra algum material, certamente roubado.

O tênue fio entre a ficção e um forte viés documental contribui para a simpatia da audiência com os decadentes e autodestrutivos personagens, tratados pelos diretores com respeito à sua realidade, no seu filme mais duro até agora.

A competente cinematografia, de Sean Price Williams, expressa a visão turva dos jovens, que não podem sequer imaginar o quanto são invisíveis aos nova-iorquinos, com sua condição social e empregos assegurados.

Holmes, de 20 anos, tem uma atuação impressionante, interpretando com brilhantismo um ser humano em busca de uma identidade, mesmo que seja para tê-la em seu reduzido mundo.

Heaven Knows What é também uma das atrações do Festival do Rio, que começa na quarta-feira, 24.

Na coletiva após a projeção – da qual participou a Gazeta do Povo – os diretores se revezaram nas respostas sobre a origem do filme, e a esperança que ele leve as pessoas a prestarem mais atenção a uma parte da sociedade que, muitas vezes, fica despercebida pela maioria. Leia os principais trechos: Qual a origem do filme?

Nós estávamos buscando um patrocínio para outro filme com Holmes, sem saber que ela realmente tinha sido indigente e drogada. Daí nos demos conta que estávamos escrevendo sua própria história. Houve dificuldades para realizar as filmagens?

Sim, houve muitas. É muito difícil filmar nas ruas em Nova York. Inicialmente, é necessário ter uma permissão especial das autoridades. Outro problema é que em todos os locais tem muita gente, muitos curiosos. Eles passam, param, ficam olhando e, a depender da cena, é preciso interromper. E quanto ao som, como conseguiram resolver?

Esse foi outro problema sério. O som da rua é muito forte e às vezes ele fica dominante na cena. Filmar em Nova York é muito complicado. Como foi o trabalho de roteiro?

Fizemos algumas adaptações, inclusive evitamos colocar nomes de pessoas da família, das pessoas viciadas. Mas em muitas partes, espelha a realidade dos drogados. Qual é a principal mensagem que o filme passa?

A história de Holmes foi base para o filme sobre a vida de uma adolescente viciada. As imagens mostradas na tela são de um mundo invisível para a maioria das pessoas. Eu espero que os espectadores prestem mais atenção a uma parte da sociedade que, muitas vezes, passa ao largo para eles.

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