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Jalil Lespert (ao fundo) dirige Pierre Niney (Saint Larent) e Guillaume Gallienne (Pierre Bergé), atores da Comédie Française | Divulgação
Jalil Lespert (ao fundo) dirige Pierre Niney (Saint Larent) e Guillaume Gallienne (Pierre Bergé), atores da Comédie Française| Foto: Divulgação

Opinião

Cinebiografia enche os olhos, mas não surpreende

Paulo Camargo

Yves Saint Laurent tem contra si o fato de tentar, em menos de duas horas, levar para a tela um período crucial, e complexo, na biografia do estilista francês, os anos 60 e 70, quando ele se torna e se firma como uma referência internacional da moda.

O talentoso Pierre Niney, ator da renomada companhia teatral Comédie Française, dá conta da complexidade do personagem, um rapaz tímido, delicado e superprotegido pela mãe, que embora tenha conseguido triunfar como criador, sempre foi emocionalmente frágil, e dependente de seu companheiro e sócio Pierre Béger (Guillaume Gallienne, diretor e astro do premiado Eu, Mamãe e os Meninos, também na programação do Varilux).

A cuidadosa reconstituição de época, e as atuações sólidas do duo principal, não chegam a compensar inteiramente uma certa superficialidade do roteiro, que não emociona. GGG

Quem já viu Recursos Humanos (1999), filme do diretor francês Laurent Cantet, realizador que venceu a Palma de Ouro em 2008, com o ótimo Entre os Muros da Escola, vai se lembrar de Jalil Lespert. No filme, um drama afiado sobre o mundo corporativo, o ator vive o protagonista Frank, um jovem que, após concluir um curso de pós-graduação na área de administração de empresas e negócios, ingressa em uma grande instituição que quase o tritura até os ossos (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).

O papel rendeu a Lespert, então praticamente estreante no cinema, o César, o Oscar francês, de ator revelação. E também começou a despertar no rapaz, então com 30 e poucos anos, a suspeita de que gostaria, um dia, de realizar seu próprio filme, desejo concretizado pouco tempo depois, em 2000, com o curta-metragem Coffee and Dreams. Ele não parou mais de dirigir.

Yves Saint Laurent, um dos filmes de maior destaque da edição deste ano do Festival Varilux de Cinema Francês, é o terceiro longa-metragem de Lespert desde então. E, certamente, o título que lhe permitiu maior visibilidade como realizador: levou mais de 1,7 milhão de espectadores às salas de exibição em seu país.

Em entrevista concedida no Rio de Janeiro, pouco depois de uma sessão seguida de debate de Yves Saint Laurent, Lespert disse que, embora não tenha estudado cinema, dirigir, para ele, sempre lhe pareceu uma decorrência natural do processo de atuar. "Percebi muito cedo que queria fazer meus próprios filmes", disse.

Baseado na biografia Debut: Yves Saint Laurent 1962, do conterrâneo Laurence Benaïm, o filme foi de encontro a um desejo de Lespert de trabalhar com uma história verídica de ascensão e queda, uma obsessão sua. "O mito de Ícaro, que consegue voar, mas tem suas asas derretidas pelo sol, sempre me atraiu, e a trajetória de Saint Laurent tem muito a ver com isso."

O ator e diretor contou que desde o início fez a opção de explorar "a época de ouro" na carreira do estilista, que começou desenhando para Christian Dior (1905-1957). "Quis retratar esse momento em que Yves, um jovem prodígio, revoluciona o mundo da moda, para depois mergulhar no álcool, nas drogas, no sexo, mas continua criando, como forma de sobrevivência existencial. Mas também quis falar dessa complexa história de amor vivida entre ele e Pierre Bergé", disse Lespert, referindo-se ao companheiro de Saint Laurent, a grande mente empreendedora que transformou o nome do estilista, portador de transtorno maníaco-depressivo, em um império.

O filme, já na fase de criação do roteiro, contou com o consentimento e com a colaboração de Bergé, que, por meio da Fundação Yves Saint Laurent-Pierre Bergé, detentora dos direitos sobre a obra do estilista, cedeu todos os modelos originais vistos no filme.

O jornalista viajou a convite do Festival Varilux de Cinema Francês.

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