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 | Hugo Santarém/ Divulgação
| Foto: Hugo Santarém/ Divulgação

"A música respeita a métrica, o filme respeita o drama." A frase dita pelo diretor René Sampaio (do curta-metragem Sinistro, de 2000) é um bom resumo de todas as escolhas feitas para a produção do longa-metragem Faroeste Caboclo, baseado na canção do Legião Urbana, que tem pré-estreia hoje e entra em cartaz amanhã, 30, nos cinemas.

Na semelhança com a música (presente no álbum Que País É Este) está a base da história. O filme conta a saga de João de Santo Cristo (interpretado por Fabrício Boliveira), desde sua infância no interior da Bahia até a sua ida para Brasília, onde se envolve com o tráfico de drogas. Quando já está no crime, ele conhece Maria Lúcia (Ísis Valverde), por quem se apaixona. Santo Cristo decide mudar de vida para viver com a jovem, mas se indispôs com Jeremias (Felipe Abib), um rico traficante local, que além de ver João como rival nos negócios, também quer o amor de Maria Lúcia.

A boa nova é que a adaptação para a telona traz um realismo maior à história do emigrante baiano. O herói não é bem um rapaz bonzinho, a mocinha fuma muita maconha e o vilão tem a crueldade de um playboy viciado e sem escrúpulos. Nada ameno, que soe como uma baladinha. O som na telona é uma injeção crua de realidade, sem amenizações. "A música é muito forte, apesar de ter virado um hit e ser cantada sem muito compromisso. Ela fala de morte, de prisão, drogas... E a gente queria dar um registro muito real dessas características", conta o diretor René Sampaio, que perdeu as contas de quantas vezes escutou a música para a produção. "Eu escuto "Faroeste" desde os 14 anos, quando eu já queria ser cineasta e já tinha a vontade de fazer esse filme, mas só para a produção escutamos muitas e muitas vezes. Chegou uma hora que eu tive que falar: ‘tá! Chega! Agora vamos fazer o filme’", brinca.

Aliás, o exercício de ouvir de novo a canção de Renato Russo é uma das expectativas de René com relação ao público. Para ele, cada pessoa tem uma história na cabeça, um tipo de versão com pequenas mudanças que vão de imaginário para imaginário. "A música tem um ‘gap’ que é quando Maria Lucia simplesmente fica com Jeremias, sem grandes detalhes disso. A gente escolheu uma história para contar, mas cada um que já escutou a música tem uma versão diferente na cabeça."

Segundo o diretor, a intenção é dar uma experiência, diferente da que cada um já criou. "Espero que as pessoas escutem a música de novo e digam: ‘ah! Isso aqui eles adaptaram daquele jeito’, ‘isso aqui está diferente’", afirma Sampaio.

Com Faroeste Caboclo, René Sampaio estreou na direção de longas-metragens. Dono de uma sólida carreira na publicidade, recebendo, entre muitos prêmios, o Leão de Prata em Cannes, em 2005, e diretor do curta Sinistro (2000), que conquistou sete troféus Candangos no Festival de Brasília, o cineasta quis que seu primeiro longa fosse sobre a música que gosta desde a adolescência. "Eu contei com uma equipe muito bacana e fui muito franco com eles: ‘olha pessoal, esse é o meu primeiro filme, então me ajudem!’ Mas acho que as dificuldades são sempre as mesmas, o sonho é sempre maior que a verba", conta Sampaio.

Citações

Nas nove semanas de filmagem, que incluíram locações em Brasília e Paulínia (São Paulo), a preocupação do diretor foi fazer citações cinematográficas à obra que é tão apreciada no país. "Era engraçado porque eu sentia as pessoas bem receosas. Aquela coisa: ‘o que é que esses caras vão fazer? Será que não vão estragar a música?’. Todo mundo que gosta da canção tem aquele medo. Mas, ao mesmo tempo, ninguém torce contra. Todo mundo quer que dê certo", diz.

Com relação ao lançamento de Faroeste Caboclo ser quase junto com Somos Tão Jovens – biografia cinematográfica de Renato Russo – Sampaio acredita que pode ser positivo. "Tínhamos marcado essa data há muito tempo. Eles acabaram lançando o filme antes do nosso, mas acho que é bom. Eles esquentam o assunto para gente, despertam no público a vontade de rever coisas do Renato. Vai criar uma boa onda de Legião."

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