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Gramado – A propalada mudança de rumo não pode ser notada no primeiro dia do Festival de Gramado – Cinema Brasileiro e Latino de 2006. Na segunda-feira, a tradicional mostra realizada na Serra Gaúcha começou exatamente como em outros anos: de forma morna, com poucas "estrelas" e público – tanto nas ruas como no Palácio dos Festivais –, e filmes pouco atrativos aos espectadores.

Os organizadores parecem já conformados com a idéia de que o evento só começa a "pegar" lá pelo meio da semana, com a chegada da maioria dos convidados e dos turistas que sobem a serra para ver de perto os astros da telona e principalmente da telinha de tevê. Essa é a melhor explicação para a programação destacar como principal filme da noite um longa-metragem brasileiro com a batida temática indígena.

Desconfie muito quando um diretor pedir à platéia que tenha paciência com seu próprio trabalho. Esta é a senha para uma longa e cansativa produção que, invariavelmente, vai fazer o espectador apagar em muitos momentos da projeção – como aconteceu com um companheiro jornalista, que passou uns bons minutos roncando durante a apresentação de Serras da Desordem, de Andrea Tonacci.

O diretor italiano radicado no Brasil não lançava um longa-metragem há décadas. Seu projeto levou mais de dez anos para ser concluído. Esse demorado processo de trabalho é refletido na tela. Tonacci dá impressão de querer dar conta de tudo o que não fez anteriormente em uma única fita, como se nunca mais fosse ter a oportunidade de filmar. Ele poderia ter cortado mais de 40 minutos dos 125 do longa, conseguindo uma trama mais enxuta e menos confusa.

Mistura de documentário e ficção, Serras da Desordem (um título desses também não consegue atrair público nenhum) apresenta a história real do índio Carapirú, que escapa de um ataque a sua tribo e passa anos perambulando pelo país até ser achado pelas autoridades da Funai, a mais de 2 mil quilômetros de seu local de origem. Tonacci destaca cenas de arquivo e encenações da trajetória de Carapiru, interpretadas pelo próprio índio e pelas pessoas que o acolheram. Ao contrário do ótimo O Anti-Herói Americano, que tem estrutura semelhante, as encenações soam muito forçadas, sem nenhuma naturalidade. Mas a produção tem suas qualidades (uma história interessante, boa parte técnica) e pode ter uma boa carreira na tevê se for melhor editada. Pelo menos Tonacci não tem a pretensão de fazer um documentário "poético", como virou mania de alguns cineastas brasileiros.

Quem abriu o festival foi o filme mexicano Mezcal, de Ignacio Ortiz Cruz, o único longa da Mostra Latina a ser apresentado à noite – os demais estão todos programados para a tarde, com sessões gratuitas. A produção lembra um pouco o cinema de Ruy Guerra, como o recente O Veneno da Madrugada (ainda inédito em Curitiba), investindo no realismo fantástico. O roteiro confuso abraça diversas histórias, com quase todos os personagens se embriagando com o mezcalino, tradicional bebida mexicana que tem fama de ser alucinógena. Talvez com um pouco dela, o espectador pudesse entrar melhor no clima e na viagem do filme.

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