Há dois anos, a baiana Priscila Leone vivia um cotidiano comum a milhares de garotas fãs de rock e enturmadas com a cena underground de suas cidades. Xerocava fanzines, assistia a show de grupos locais, fazia parte de uma banda de hardcore e torcia o nariz para os gêneros populares (vide axé music) que dominavam a produção musical de Salvador à época.

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Hoje, Pitty, como ficou conhecida, é o ícone de nove a cada dez adolescentes, que imitam seu visual, admiram sua atitude despojada e sabem de cabo a rabo as letras de todas as canções de Admirável Chip Novo, registro de estréia da roqueira baiana, lançado em 2003, que alcançou a marca de 250 mil cópias vendidas.

Expectativa é a palavra-chave quando o assunto é o novo álbum de Pitty, Anacrônico, recém-chegado às lojas brasileiras. Tanto por parte dos fãs, ávidos por novas músicas, quanto para a crítica especializada, ansiosa para saber se a roqueira tem condições de passar pelo temido "teste do segundo álbum". Nem um, nem outro incomodaram Pitty durante o processo de criação de Anacrônico, que, segundo ela, pode decepcionar as pessoas nesse sentido. "Em momento nenhum isso fez a menor diferença para mim. Vejo que essa expectativa está muito mais lá fora, não diz respeito à gente. Não nos sentimos pressionados ou na obrigação de superar o primeiro álbum. Simplesmente queríamos fazer algo de que todos gostássemos", explica, em entrevista ao Caderno G.

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Formado por 13 canções, todas – assim como em seu primeiro trabalho – compostas por Pitty, o novo álbum conta com algumas novidades, entre elas a substituição do ex-guitarrista Peu (que deixou a banda, alegando divergências de opiniões) por Martin, ex-integrante da banda baiana Dr. Cascadura.

A troca, de acordo com Pitty, não causou grandes alterações no que a banda já vinha fazendo, mas a baiana não se contém ao enumerar os feitos do novo integrante. "A contribuição que ele deu para o som nesse segundo disco é impressionante. Ele realmente superou todas as nossas expectativas. Foi uma aquisição muito feliz", comemora.

Contribuição que se traduz em forma de peso. Todas as canções de Anacrônico contam com camadas densas de guitarras distorcidas e vocais rasgados, algo que a cantora atribui a suas mais recentes influências: Mars Volta, Muse e Queens of the Stone Age. "É outro disco, são outras canções, mas é a mesma banda, a mesma essência. Tem o lance das nossas características sonoras, que já haviam sido apresentadas no primeiro disco e que continuam presentes, mas, em canções diferentes. A intenção é sempre experimentar uma coisa nova, ousar ir a um lugar aonde eu não tinha ido antes", analisa.

Sobre a faixa que dá título ao álbum – a palavra anacrônico significa estar em desacordo com a moda – Pitty revela um certo teor autobiográfico na letra da canção, que fala de mudanças de interesses e prioridades. "A gente está sempre evoluindo. Embora todo mundo pense que ‘Anacrônico’ diz respeito aos meus dois últimos anos. Na verdade, é uma música bem mais antiga, de cinco anos atrás, quando eu nunca imaginava o que poderia acontecer na minha vida. Ela fala sobre mudança, mas é algo que eu já sentia: que a gente está em constante evolução e precisa aprender a lidar com isso sem ter medo e achar que, necessariamente, é uma perda de essência", explica.