Pai e filha veem-se pressionados pela urgência da protagonista em sair do país| Foto: Divulgação

Quando era um candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro, o longa iraniano A Separação, que agora chega às locadoras, podia parecer uma carta marcada, destinado a dar um prêmio-recado ao Irã de Ahmadinejad, que proíbe cineastas de trabalhar. Depois que o filme de Asghar Fahardi fez a limpa no Festival de Berlim, levou mesmo a estatueta de Hollywood e começou a ser exibido nos cinemas, pôde-se comprovar a qualidade do drama, que ultrapassa qualquer intenção de denúncia.

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Fechado num circuito familiar, ele aparentemente mostra pouco do país que pudesse ser entendido como politicamente engajado. Nas entrelinhas das cenas, porém, está a crítica à repressão.

As duas mulheres protagonistas, Simin (Leila Hatami), e Razieh (Sareh Bayat) querem o melhor para suas filhas, mas com preocupações de origens opostas. A primeira quer deixar o país levando a adolescente Termeh. A segunda é religiosa, e teme cometer pecados que reflitam negativamente sobre a pequena Somayeh.

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Como forma de pressão, Simin sai de casa, onde atendia o sogro, afligido pelo Alzheimer. Nader (Peyman Moadi) contrata então Razieh, que sofre conflitos de consciência quando começa a realizar o novo trabalho.

Sua vida é encrencada. Enquanto o primeiro casal, que está se separando, tem um padrão de vida de classe média, ela e o marido sofrem com o desemprego. Ela está grávida e ele, endividado, mas, por legalismo religioso, não quer a mulher trabalhando numa casa sem "dona".

Por trás das diferenças sociais, o sofrimento acontece em ambos os lados, e se aprofunda à medida em que as duas famílias se chocam, quando Razieh sofre um aborto e acusa Nader de a haver empurrado da escada.

Segue-se uma corrida à Justiça, que envolve longas esperas no tribunal, conversas acaloradas com juízes que, surpreendentemente, parecem querer o bem das pessoas. E, cada vez mais, cresce o medo e a insegurança.

No meio disso tudo, duas crianças e um idoso doente sofrem. Os homens e mulheres, sem se reconciliar, sofrem também.

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Sem estereótipo

A Separação divide casais, famílias e a sociedade. Revela muito mais da configuração iraniana do que se buscasse um formato documental. Além disso, atrai o olhar do Ocidente ao romper com estereótipos que talvez tenham sido reforçados em longas anteriores, classificados genericamente como "filmes iranianos".

A universalidade do drama filial, social e entre casais suscita uma identificação que ultrapassa as barreiras colocadas pelo desconhecimento. GGGG

Classificações: GGGGG Excelente. GGGG Muito bom. GGG Bom. GG Regular. G Fraco. 1/2 Intermediário. N/A Não avaliado.