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Nas palavras do mítico Nelson Rodrigues, o homem que tem duas mulheres é um infeliz, pois acaba sendo exigido em dobro. Faz sentido. Mas o que dizer então de um sujeito casado, literalmente, com três ao mesmo tempo? Esse é o mote de "Big Love – Amor Imenso", série dramática da HBO em cartaz no Brasil a partir deste domingo, às 23h. Exibido desde março nos EUA, o programa, co-produzido pelo ator Tom Hanks, vem causando polêmica por mexer em outro vespeiro da América profunda: o fundamentalismo religioso.

Bill Henrickson (Bill Paxton), o protagonista, nasceu e foi criado em uma comunidade rural ligada às mais antigas tradições da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também conhecida como Igreja Mórmon. Entre as práticas mantidas pelo grupo está justamente a poligamia, proibida pelos mórmons há mais de cem anos. Bill, claro, é um dos que ignora a determinação. Mas ele não está sozinho. Em 2005, um relatório da Promotoria Pública do estado de Utah revelou que cerca de 40 mil pessoas mantêm "casamentos plurais" nos EUA.

Um dado surpreendente e alarmante, já que não são poucos os relatos de incesto, violência doméstica e outras formas de abuso vindos de quem se desgarrou desse tipo de família. Não à toa, os próprios mórmons, além de ONGs de apoio a mulheres descontentes com relações polígamas, logo vieram a público para criticar o programa. A igreja reafirmou seu repúdio à prática. Já as entidades condenaram a visão edulcorada da questão apresentada pela série. Houve, no entanto, quem elogiasse o tratamento humano dado aos personagens. Seja como for, o público aprovou. A estréia de "Big Love" foi vista por quase cinco milhões de americanos, e a HBO já confirmou a realização de uma segunda leva de episódios.

Difícil não simpatizar

A reportagem da Gazeta do Povo assistiu aos dois primeiros capítulos (a temporada completa tem 12). Polêmica à parte, trata-se, realmente, de uma das produções mais "humanas" da HBO, canal famoso por programas sobre minorias e temas espinhosos. Bill Henrickson e suas três mulheres parecem tão reais e complexos na tela que fica difícil não simpatizar com eles – e aí compreende-se o receio de mórmons e ONGs ligadas à questão.

Bill é um polígamo urbano e de classe média que vive com seu clã no subúrbio de Salt Lake City, cidade-sede da Igreja Mórmon, localizada no estado de Utah. Ele acredita seguir (quase) à risca os preceitos do fundador da denominação, Joseph Smith Jr. (1805 – 1844), para quem os homens que vivessem honestamente com várias mulheres receberiam melhores recompensas no reino dos céus. Por isso, deu duro em sua loja de materiais de construção para garantir o sustento da trupe, recém-instalada num terreno dividido em três casas – uma para cada mulher e seus respectivos filhos.

Barbara (Jeanne Tripplehorn), a mulher mais velha, é professora e mãe de um rapaz e uma moça adolescentes. Organiza a rotina da família e apara as arestas entre Nicki (Chlöe Sevigny) e Margene (Ginnifer Goodwin), que ainda não se acertaram na convivência diária. A primeira, filha do líder da comunidade onde Bill foi criado, compensa suas carências comprando compulsivamente. Margene, a mais jovem, mal compreende a situação na qual se meteu. Ambas têm duas crianças com o "maridão" e não conseguem respeitar uma regra básica: nunca transar na casa da outra, principalmente nos dias previamente agendados para que cada mulher desfrute do companheiro.

Bill, por sua vez, é uma mistura de corredor e malabarista. Além de administrar a vida conjugal e esconder sua condição da sociedade, está prestes a abrir uma filial da loja, cuida do pai doente e deve dinheiro aos mórmons. De tão estressado, tem de tomar Viagra para satisfazer as esposas. Mais "rodrigueano", só se alguém morrer no fim.

Serviço:

"Big Love – Amor Imenso" vai ao ar todos os domingos, na HBO, às 23 horas.

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