Sobre a violência e a afetividade

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A confecção de um espetáculo não é uma exigência de um edital voltado à pesquisa teatral, como o lançado pela Fundação Cultural de Curitiba em 2007. Nem por isso, ao fim de dez meses de trabalho de investigação, os grupos contemplados não têm o que mostrar. Os resultados dos esforços da Obragem Teatro e Cia., CiaSenhas de Teatro e TraioProduções Artísticas durante todo esse tempo serão apresentados de hoje a quinta-feira, na Casa Hoffmann.

A pesquisa da Obragem foi iniciada em março e já se refletiu em ações variadas como oficinas, conversas abertas com as convidadas Patricia Selonk (atriz do Armazém), Marila Velloso e Mônica Infante, entre outras, e, finalmente, três cenas curtas e um livro, que o público conhecerá no evento de hoje, às 19 horas, batizado de As Imagens, a Cena Teatral e as Transformações do Real.

"Desde a formação da companhia, temos dois focos principais de influência, as artes visuais e a dança contemporânea. Com esse projeto, queríamos observar esse processo de criação e extrair um meio de compreender como a gente funciona", explica a diretora Olga Nenevê. "Chegamos a uma configuração final com as cenas e livro. Nós entendemos que essas influências atuam como uma forma de percebermos como estão as relações no mundo, como está a afetividade, como estão automatizadas, como a violência faz parte de várias instâncias das relações".

"Mão Dupla" é a primeira das cenas, já mostrada, em fase de processo, no Movimento de Teatro de Grupo de Curitiba. É inspirada na obra do artista urbano britânico Banksy, cujo trabalho em estêncil veicula em muros e ruas um discurso pacifista e ecológico. "Essa cena tem uma característica de assumir as qualidades de informação que a rua oferece. Quando você caminha nas ruas, transitando de um lado para o outro, existe um fluxo e muitas coisas acontecem: buzinas, carros, lojas, gente caindo no chão, pessoas apressadas, são muitas informações juntas que todos entendemos, mesmo que não entremos em contato uns com outros. É uma combinação que reflete o estado de tensão e velocidade do homem urbano atual", diz Olga.

"Sobre Reparações Necessárias", influenciada pelo israelense Zlatko Kopljar, esteve na programação da Mostra Cena Breve. Como o artista, reflete as relações de poder. Já "Composição em Três Tempos", a última e inédita, remete ao dinamarquês Vilhelm Hammershoi. "As obras desse artista, especialmente, motivaram uma reflexão dentro da companhia sobre o deslocamento de uma arte para a outra, sobre composições, linhas, movimentos, silêncios e ruídos. Nessa cena, a gente tenta focar, principalmente, nos estados de introspecção feminina."

Narrativas Urbanas

Na quarta-feira, às 19h30, é a vez da CiaSenhas lançar seu livro, Narrativas Urbanas, no qual relata o processo criativo da companhia, que se ocupou de treinos diários, experimentações, intercâmbios e mostras de processo nos últimos meses.

Os atores aproveitam a ocasião para compartilhar o momento atual da pesquisa de mesmo nome, pela qual partiram de acontecimentos reais relatados em notícias publicadas nos jornais e da observação da paisagem urbana para criar cenas-depoimentos. Anne Celli, Greice Barros, Luiz Bertazzo e Patrícia Saravy participam, sob a coordenação da diretora Sueli Araujo.

Serviço

"Mão Dupla", "Sobre Reparações Necessárias" e "Composição em Três Tempos". Com a Obragem Teatro e Cia. Dia 18, às 19 horas. Narrativas Urbanas – Interferências e Contaminações. Com a CiaSenhas. Dia 19, às 19h30. O Céu Uniu Dois Corações. Com a Traio Produções Artísticas. Dia 20, às 19h30. Casa Hoffmann (R. Claudino dos Santos, 58), (41) 3321-3313. Entrada franca.