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Tridapalli: romance premiado antes do lançamento | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
Tridapalli: romance premiado antes do lançamento| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Lançamento

O Beijo de Schiller Cezar Tridapalli. Arte & Letra, 274 págs., R$ 35. Romance.

No tecido narrativo preparado por Cezar Tridapalli no romance O Beijo de Schiller, todos nós, em algum momento da vida, acabamos nos tornando reféns. As relações de trabalho, de poder, os conflitos de classe e, principalmente, os embates românticos sempre acabam com alguém restringindo a liberdade de ação real ou emocional do outro. E como não raro acontece, as vítimas constróem um sentimento ambíguo e inesperado com seus carcereiros.

O livro é o segundo romance do autor curitibano – em 2011, ele estreou com Pequena Biografia dos Desejos (7Letras) – e mesmo antes do lançamento o texto obteve a primeira colocação do Prêmio Minas Gerais de Literatura.

Tridapalli costura duas histórias paralelas de forma inventiva, com tramas tangenciais. Uma delas acontece no plano real e é narrada em primeira pessoa pelo personagem do escritor Emílio Meister.

Consagrado no pequeno universo literário local, boas vendas, uma dezena de prêmios, figura carimbada em debates literários e na mídia, Meister é um homem de meia-idade vaidoso e cínico, porém sagaz e consciente de suas limitações estéticas.

Vive um casamento que caminha para o buraco do decurso do tempo. Sua mulher escreve teses furadas de sociologia para concorrer intelectualmente com ele.

As discussões do casal imaginadas por Emílio são, talvez, o ponto alto do livro. Conseguem ser cruéis e engraçadas, explorando com grande profundidade a tragicomédia do amor e do casamento.

Logo no início do texto, o casal é sequestrado por um peculiar meliante adolescente. Ele os leva até a casa da família e passa lá a conviver com o casal de uma maneira muito estranha.

A outra trama é a do livro que Meister tenta escrever durante o período de cativeiro. O personagem central é Luka, um arquiteto esquisito que vive atormentado de tensão homoerótica. A junção das duas narrativas mostra um curioso processo emotivo do criador literário em relação à sua obra.

Ambiental

O universo ficcional do livro é primordialmente a região, ao mesmo tempo pacata e agitada, do Jardim Ambiental, em Curitiba, Mais especialmente, a rua Schiller e suas adjacências arborizadas, que mantêm uma insuspeitada relação com a obra do filósofo e poeta alemão contemporâneo de Goethe que dá nome ao logradouro.

Tridapalli encontra aqui uma voz literária madura que passa longe de imitações e formulismos. Entrega um romance de grande qualidade, fundamental para quem quer entender o que está acontecendo na literatura brasileira atual. GGG1/2

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