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Na virada do século 20, Eliseu Visconti (1866-1944) foi um dos pintores mais importantes do Brasil. Hoje, um ou outro frequentador do Teatro Municipal sabe que as pinturas monumentais da sala de espetáculos e em parte do foyer são de sua autoria. Italiano radicado no Rio ainda menino, Visconti tinha 56 anos em 1922, na época da Semana de Arte Moderna. Sua obra acabou tachada de acadêmica em meio às inovações técnicas e temáticas da turma de São Paulo, 20, 30 anos mais jovem, e seguiu subvalorizada na segunda metade do século. Quase sete décadas depois de sua morte, essa trajetória está aos poucos mudando de curso. Entre dezembro de 2011 e o fim do mês passado, uma ampla retrospectiva, "Eliseu Visconti - A Modernidade Antecipada", tomou seguidamente a Pinacoteca do Estado e o Museu Nacional de Belas Artes, as duas instituições que mais obras têm dele. Dela originou-se um belo catálogo. No fim de julho ou início de agosto, será lançada uma nova biografia.

"Eliseu Visconti e Seu Tempo", a única até hoje, foi escrita pelo crítico Frederico Barata e publicada em 1944, logo depois de ele morrer. Tem imprecisões: diz, por exemplo, que o italianinho veio de Salerno com um ano, quando chegou aos sete, com uma irmã mais velha, para viver com outros três irmãos numa fazenda no interior do Rio. A versão falsa era sustentada pelo próprio, que não admitia que sua nacionalidade brasileira fosse questionada. "Eliseu Visconti - A Arte em Movimento", o novo livro, terá uma parte biográfica acurada, uma análise de sua caminhada artística, a cargo da historiadora de arte Mirian Seraphim, especialista em Visconti, e um capítulo dedicado ao Municipal (as pinturas, recuperadas na reforma do centenário do teatro, foram feitas todas em Paris, entre 1905 e 1908, pois o Rio não oferecia condições para um trabalho de dimensões tão grandiosas). Também são desenvolvidos temas como o pioneirismo como designer (fez cartazes publicitários, estampas para tecidos) e a influência do simbolismo em seu trabalho.

Quem está por trás dessa e de outras iniciativas recentes de divulgação de Visconti é o neto Tobias, que herdou do pai, falecido em 2003, a responsabilidade. Nenhum dos dois seguiu o ofício, mas ambos tomaram para si as tarefas de preservar o acervo particular do pintor (correspondências com seus contemporâneos, desenhos, jornais de mais de 100 anos) e de divulgar a obra (estimada em 800 peças).

Tobias - que não chegou a conhecer o avô - está determinado a elevar Visconti a uma posição de destaque na história da arte brasileira. "Com a Semana de 22, ficou perpetuado que tudo que veio antes não era importante, não representava a arte brasileira, era cópia dos europeus", ele avalia. "Na Europa, os impressionistas são considerados modernos; no Brasil, acadêmicos." O primeiro passo, em 2005, foi a criação do site www.eliseuvisconti.com.br, que se tornou uma referência. O próximo será a elaboração do catálogo raisonné. Para isso, ainda falta patrocínio.

Os 90 anos da Semana de 22 vêm suscitando novas leituras do movimento e de seus antecessores. "Diferentemente de outros, Visconti foi reconhecido em vida, terminou a vida numa situação financeira muito boa. Sua obra é universal e eterna", diz Mirian Seraphim, que dedicou mestrado e doutorado na Unicamp à obra. "Visconti não teria por que participar de um movimento de contestação porque nunca se sentiu preso a nada, era livre. Variava as técnicas, usava pinceladas divisionistas quando queria (características do chamado neoimpressionismo). Em Paris, entre 1894 e 1898, frequentou os ateliês mais modernos. Está no marco divisório entre a arte acadêmica e a moderna. O problema é que as obras que ficaram na memória das pessoas são as expostas pelos museus, justamente as mais tradicionais, e isso o deixou numa sombra", completa

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