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Nêgo incomodou algumas pessoas com sua proposta provocadora | Christopher Duggan/
Nêgo incomodou algumas pessoas com sua proposta provocadora| Foto: Christopher Duggan/

Muitas poltronas vazias na primeira apresentação do espetáculo Nêgo (eu.ele.nós.tudo preto), da elogiada Companhia Urbana de Dança, no Festival de Teatro de Curitiba.

O grupo carioca de hip-hop e dança contemporânea dirigido por Sonia Destri Lie levou ao palco do Guairão, na noite chuvosa de sábado (28), um espetáculo refinado, poderoso e denso – o que se mostrou uma escalação ousada do festival.

Sintomaticamente, houve quem se retirasse logo de início. E pelo menos duas jovens adultas na fileira “R” fizeram questão de mostrar, ao longo de todo o espetáculo e em alto e bom som, que não estavam dispostas a experiências mais desafiadoras que as do “Zorra Total”.

Nêgo não é mesmo fácil. O espetáculo tem movimentos arrebatadores, virtuosísticos, alguns mais facilmente reconhecíveis do breaking “clássico”, diluídos ao longo de sua dinâmica de agrupamentos, duos, solos e transições (com destaque para Jéssica Nascimento, Miguel Fernandez e André Feijão).

Envolta por uma iluminação contida e uma trilha sonora fragmentada e climática, há também momentos de poesia, delicadeza, ternura.

Mas o que marca são suas passagens urgentes, suas representações e referências diretas à violência urbana, à opressão, sobretudo ao racismo velado. É um espetáculo de grande beleza, mas de uma beleza perturbadora e provocadora – efeito que atinge com força, mas também com sutileza e elegância. E saber que o grupo é de fato formado principalmente por jovens negros, com origens em comunidades de poucas oportunidades, torna o discurso ainda mais forte.

É por saber disso que a escalação do festival mostrou coragem: foi um sábado à noite, e o palco mais nobre da cidade, que reservou para o grupo carioca expor as feridas mais profundas do Brasil.

A segunda apresentação acontece neste domingo, às 19 horas, também no Guairão.

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