Nina, a dançarina que pode dar o Oscar de atriz para Natalie Portman| Foto: Divulgação
Natalie Portman vive bailarina em busca do seu lado sombrio em Cisne Negro

Entrar numa sessão de Cisne Negro (confira trailer, fotos e horários das sessões) sem nenhuma informação prévia pode render surpresas boas e más. Imagine um filme de horror que se passa numa companhia de balé. Estranho? Você ainda não viu nada.

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Não existe um assassino em série, mas uma bailarina (Nina Sayers, que deve dar o Oscar de atriz para Natalie Portman) disposta a fazer qualquer coisa pelo papel principal na montagem de O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. Ainda que essa disposição a leve à loucura.

O balé fala de um feiticeiro com poderes sobre duas garotas que são cisnes durante o dia e mulheres à noite. Há o cisne branco, mais controlado e delicado, e o negro, mais impulsivo e selvagem. Nina é perfeita para fazer o cisne branco, mas parece incapaz de incorporar a impulsividade necessária para interpretar o cisne negro. O diretor do espetáculo, Thomas (o francês Vincent Cassel), resolve dar o papel à menina depois de vislumbrar nela uma ponta de fúria.

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É essa ponta, como a de uma pena que se insinua no tecido de um travesseiro, que Nina começa a puxar, puxar até arrancar de dentro de si um lado obscuro sobre o qual não tem controle nenhum. Ela quer ser "perfeita", mas sua dedicação transcende a capacidade do corpo raquítico e da mente frágil. O passo seguinte é entrar em conflito com a mãe superprotetora (Barbara Hershey) e passar a ver um duplo de si mesma – o seu lado negro – em qualquer pessoa que cruze o seu caminho.

Darren Aronofsky é um diretor estranho com uma gana de fazer filmes que dão dor de cabeça. Eles são exagerados, amplificam a experiência dos personagens com truques que perturbam – foi assim com os barulhos de Pi (1998) que embalavam as enxaquecas do protagonista matemático e os cortes de câmera alucinantes que acompanhavam os drogados em Réquiem para um Sonho (2000).Em O Lutador (2008), Aronofsky deu um tempo nos malabarismos técnicos e montou uma narrativa mais "normal", retratando a queda e a redenção de Randy (Mickey Rourke).

Cisne Negro segue a linha dor de cabeça e o público é sugado para dentro da loucura de Nina. Na medida em que a paranoia e o nervosismo da bailarina crescem, o filme também fica mais tenso e aumentam os sustos. Feridas surgem nas costas (asas?) e ela arranca pedaços de cutícula que vão até o nó do dedo.

É um filme que pega vários clichês – da mãe controladora, da menina inocente, do diretor canalha – e cria um todo incomum. Talvez venha daí o estranhamento. GGG